Pesquisa é feita de acordo com o Painel de Mudanças Climáticas da ONU
Microcosmos Experimentais
Simula condições atmosféricas distintas, a fim de saber como será o comportamento dos organismos - Esta pesquisa se refere aos existentes na Amazônia nas condições climáticas previstas para 2100. Para isso, foi criado um conjunto de ambientes especiais, denominado pelos pesquisadores de microcosmos, que reproduzem temperaturas consideradas extremas.
Para descobrir como animais e plantas vão se virar diante do desafio do aquecimento global, cientistas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) estão recriando artificialmente o ambiente aquático amazônico num clima mais quente.
A ideia é ter cenários baseados em três projeções do IPCC (painel do clima da ONU) para 2100, da mais branda à mais catastrófica.
O projeto, diz seu coordenador, Adalberto Val, diretor do Inpa, é inédito no mundo. "Muitos pesquisadores olham para os animais terrestres quando fazem projeções, mas se esquecem da vida aquática", afirma o biólogo.
No caso da Amazônia, há mais de 3.000 espécies de peixes conhecidas --boa parte delas endêmica (ou seja, só existem naquela região).
Essas pesquisas buscam entender as adaptações dos organismos a mudanças ambientais em dois âmbitos: as causadas naturalmente e as originárias de ações humanas. Para fazer esses testes, foram criados quatro microcosmos experimentais, de 25 metros cúbicos cada, equipados para reproduzir diferentes níveis de CO2, temperatura, umidade e luminosidade, todos previstas pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) para o ano de 2100.
Nesses ambientes, os pesquisadores estão incubando diferentes organismos aquáticos, entre eles algumas espécies de plantas. No caso delas, o interesse é saber como essas plantas se adaptam aos chamados novos desafios ambientais. Há quatro salas, sendo uma de controle, com as condições climáticas de hoje, e otras três que simulam os seguintes cenários: brando, intermediário e drástico.
O cenário brando é classificado pelos pesquisadores para o caso de que nós, humanos, conseguíssemos reduzir o lançamento de CO2 na atmosfera. No intermediário é calculado o mesmo grau de lançamento de CO2 atual e no drástico, se aumentássemos esta emissão.
O CO2 é um gás de efeito estufa, e o aumento de seu lançamento no ambiente significa o aumento de temperatura da terra.
Estudos do projeto Adapta simulam condições atmosféricas de 2100
Essas pesquisas se iniciaram há um ano e se restringiram ao trabalho de campo enquanto os ambientes estavam sendo construídos. Atualmente, os ambientes estão em fase de teste e em dois meses os pesquisadores começarão a incubação dos organismos, que ficarão nesses microcosmos por um ano, quando será feita as avaliação dos resultados.
Os resultados das pesquisas são dados importantes para a conservação das espécies aquáticas de um modo geral. Determinar como as espécies vivem em seus ambientes, quais suas adaptações, em que estado estão suas capacidades adaptativas e quais os marcadores genéticos mais sensíveis às mudanças no ambiente, representa um avanço no conhecimento para medidas de conservação e manejo das espécies em geral.
Plantas aquáticas no Lago Caruru, 10 anos após
derramamento de petróleo (Foto: Divulgação/
Aline Lopes)
O impacto do aquecimento sobre a vida aquática começa fora d'água. Com a redução das árvores em volta dos rios (elas podem morrer com o clima mais quente), a radiação solar que atinge o ambiente aquático aumenta.
Além disso, os bichos tendem a nadar mais superficialmente para respirar diante da redução de oxigênio nas águas, que têm aumento de carbono e ficam mais ácidas com o aquecimento global.
Mais expostos à luz solar, os peixes correm mais risco de sofrer mutações por causa da radiação, e isso pode prejudicar sua saúde.
A ideia do Inpa é avaliar todas essas variáveis nos ambientes artificiais.
"Os cenários não corresponderão exatamente à realidade, mas queremos investigar se esses animais conseguirão se adaptar às [novas]condições", afirma ele.
A hipótese dos cientistas é que os truques para sobreviver ao aquecimento estão no DNA dos animais desde o período Jurássico, há cerca de 200 milhões de anos, quando o clima era mais quente.
Val também lembrou que, diante de condições climáticas adversas, os peixes tendem a migrar para outros ambientes. Em geral, os que ficam nas condições mais quentes tendem a ser os peixes ósseos. Os cartilaginosos (como as arraias) procuram outras águas, menos tépidas.
Isso traz desequilíbrios ambientais, como disputa acirrada por alimentos.
Hoje, de acordo com Val, há 20 modelos sobre mudanças climáticas que não consideram a adaptabilidade dos organismos. "Precisamos considerar as características de cada lugar e olhar especificamente para os peixes."
Folha Online
Globo Ecologia
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