Todos pela Natureza!

domingo, 29 de maio de 2011

Agrotóxicos - Você sabe o que está comendo?

A segurança alimentar no Brasil realmente é um assunto muito sério e precisamos prestar mais atenção e participar ativamente desse assunto, pois isso diz respeito àquilo que comemos e damos aos nossos filhos.

Estaremos analisando a produção em massa de diversos alimentos que comumente estão à mesa dos brasileiros.

Começaremos hoje analisando a produção de tomate, que utilizamos quase que diariamente na forma de salada ou como molho em nosso “santo” macarrão de domingo.

Nós tivemos acesso aos produtos utilizados pelos agricultores na produção de tomate da região de Goiás. Esse produto na sua grande maioria é enviado para as indústrias na fabricação de molhos e derivados.
Tomamos como exemplo um caminhão de tomates que chega da lavoura diretamente para a indústria.
 Abaixo, demonstramos a quantidade, proporcional ao peso da carga, de cada insumo químico que é utilizado desde o plantio até a colheita: 
Produção Agrícola

TOMATE IN NATURA 
Peso da Carga
19.056,000 kg  
Produtos Utilizados Durante a Produção Insumos e Defensivos Químicos  Quantidade Utilizada   
Semente TOM H9553 SC 151MI
0,762 mil
Acephato / Orthene
0,196 litros
Captan 500 / Orthocide
1,216 kg
Betacyflutrin / Turbo
0,082 litros
Clorpirifos / Klorpan
0,621 litros
Nomolt
0,051 litros
Metribuzin /Sencor
0,208 litros
Muda Tom
2,134 mil
Glifosato /Trop
0,311 litros
Hidroxido de Cobre / Kocide
2,199 kg
Iharaguens
0,154 litros
Paraquat+Diuron / Gramocil
0,130 litros
Procimidone / Sialex
0,377 kg
Fenpropathrin / Danimen Meothrim
0,130 litros
Fluazinam / Frowncide
0,154 litros
Map Reg 105-4 Purificado
2,717 kg
2,4-D
0,208 litros
Acetamiprid /Mospilan
0,015 kg
Thiophanate Menthil / Cercobin 700
0,208 kg
Adubo 04.30.16+Micros
414,000 kg
Semente Tomate Numero 2992
1,326 mil
Tiametoxanilamda-Cialotrina Defensivo Agr
0,103 kg
Cepermetrina/Fastac Defensivo Agr
0,027 kg
Flubendiamide/Belt Defensivo Agr
0,021 kg
Completo Benthiavalicarb Defensivo Agr
0,078 kg
Intrepid Metoxifenozida Defensivo Agr
0,048 kg

Ou seja, para cada carga de tomate in natura que chega para ser processada na indústria, esta vem acompanhada de mais de 25 produtos químicos que foram utilizados em sua lavoura.

Muitos desses produtos químicos utilizados são altamente tóxicos e seus efeitos colaterais sobre o meio ambiente, animais e a saúde das pessoas ainda não foram completamente estudados.

Os produtores e as indústrias irão argumentar que estão dentro da lei e que respeitam as normas e processos de aplicação e uso desses compostos.

Realmente estão cumprindo a lei! Acreditamos nisso.

Porém, o problema vai muito além da legislação, passando pelo uso de produtos cujos efeitos em longo prazo no meio ambiente, animais e pessoas são desconhecidos.

A lavoura de tomate foi apenas um exemplo, porém garantimos que o mesmo processo acontece na esmagadora maioria das culturas agrícolas do Brasil e do mundo.

Qual a saída?

Realmente a produção de alimentos orgânicos no mundo ainda é muito pequena e ineficiente dado ao tamanho do mercado consumidor cada vez mais sedento por alimentos.

Esse fato tem sido a principal justificativa de ruralistas e defensores da agricultura de massa, que segundo eles deveria avançar sobre florestas e áreas livres e fazer o que for preciso para produzir cada vez mais e mais.

Porém, sabemos que o lucro e a ganância por mais lucro, tem sido sempre a mola propulsora do modelo econômico que vivemos, onde tudo se justifica desde que a lucratividade do empreendimento esteja dentro do esperado.

Onde nós vamos parar? Só o tempo dirá.

Fonte: Estudos Realizados na Produção de Tomate no Estado de Goiás.
Equipe @Terrachamando

Ex-militares alertam governo a cuidar melhor da Amazônia.

Povoar a Amazônia é garantia 
para manter sua integridade

Para alguns, a redivisão ajudará 
preservar reservas estratégicas 
de petróleo e de minerais nobres
BRASÍLIA – Em Amazônia – A grande cobiça internacional, Gélio Fregapani, um dos maiores conhecedores da Amazônia brasileira dá a receita para assegurar a posse do Brasil sobre a região: povoá-la sustentavelmente. “Nossa Amazônia, com sua riquíssima biodiversidade, água abundante e vastíssimas riquezas minerais ainda inexploradas e, naturalmente, motivo de grande inquietação”, avalia Fregapani, coronel da reserva do Exército e um dos fundadores do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), sediado em Manaus (AM).

Para Fregapani, a explosão demográfica mundial e a busca por alimentos e riquezas (mineiros, madeiras, petróleo e outros bens úteis à humanidade) fazem da Amazônia alvo fácil das grandes potências. “Trata-se de um perigo real e imediato”, alerta. Ainda de acordo com Fregapani, a saída para “o risco que nossas novas gerações do III Milênio não precisam recorrer às armas, na defesa da integridade nacional” é povoar a Amazônia. Militares ouvidos pelaAgência Amazônia sob a condição do anonimato têm a mesma opinião de Fregapani. “Povoar a Amazônia é condição indispensável para mantê-la brasileira”, afirma um general da reserva do Exército, que serviu durante anos na Amazônia.

Outro militar da reserva, também conhecedor profundo da Amazônia, observa: “as circunstâncias mundiais hoje são favoráveis ao Brasil e, por essa razão, o Estado brasileiro precisa ficar mais atento com relação à Amazônia”. Para esse coronel, a redivisão territorial do Brasil, em especial da Amazônia, é uma medida correta para povoar a região e assegurar a presença do Estado em locais estratégicos e poucos habitados.

Petróleo, urânio e outros minérios

Militares, ex-militares e estrategistas consultores pela Agência Amazônia se mostram preocupados com a falta de ação do governo em áreas estratégicas da Amazônia. Segundo eles, a ineficiência do Estado tem favorecidos aos traficantes de drogas, armas e aos biopiratas.

Quando ainda na ativa, o general Maynard Santa Rosa depôs na Câmara dos Deputados e traçou um triste retrato. Disse que algumas ONGs (Organizações não Governamentais) atuam no tráfico de drogas, de armas e até fazem espionagem na Amazônia. Sua afirmação causou alvoroço no governo do então presidente Lula. Poucos dias após sua ida à Câmara, Maynard foi mandado para reserva.

Ex-chefe do Comando Militar da Amazônia (CMA), general Augusto Heleno, também foi punido por Lula. Em palestra a oficiais no Rio de Janeiro, em 2009, o general Heleno criticou a política indigenista do governo petista. Meses depois foi substituído do CMA. Veio para o Grupamento de Tecnologia do Exército, em Brasília, e este mês foi para a reserva. A exemplo de Heleno, outros militares avisam que as Forças Armadas estão atentas para defender as riquezas da Amazônia, entre as quais o petróleo – muitas reservas estão identificadas, mas ainda inexploradas – e o urânio, o nióbio e outros minérios nobres ali encontrados.

Redivisão territorial 
Nacionalista e defensor dentro da Maçonaria – na qual é grão-mestre – de uma campanha em favor da Amazônia, o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), vê na redivisão territorial uma maneira de povoar a Amazônia e consolidar a presença brasileira na região. E já deu um passo decisivo nesse sentido. Após a Câmara aprovar o PDS 52/07 autorizando o plebiscito sobre a criação do Estado do Carajás, o Senado aprovou, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), o substitutivo do projeto – o PDS 19/99 – de Mozarildo propondo a realização de consulta popular sobre a criação do Estado de Tapajós.
Essas duas novas unidades da Federação surgiriam do desmembramento parcial do Estado do Pará. Enquanto Carajás deverá reunir 39 municípios localizados no sul e sudeste paraense, área onde reside cerca de 1,5 milhão de pessoas, Tapajós agregaria 27 municípios da parte oeste e teria população estimada em 1,7 milhão de habitantes. Com esse rearranjo, o Pará ficaria com 78 municípios e 2,9 milhão de habitantes.
Mozarildo tem defendido a divisão do Pará em três unidades, argumentando que muitas falhas na administração do estado devem-se, justamente, à sua grandeza territorial. “O Pará tem 144 municípios. Municípios como Altamira, que é maior do que muitos países da Europa estão no oeste do Pará. A área do estado hoje é de 1,4 milhão de quilômetros quadrados. Administrá-lo é como administrar vários países da Europa ao mesmo tempo”, compara.
Agindo em linha contrária, Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Jorge Viana (PT-AC) argumentam que a redivisão territorial é o aumento do gasto público com novas estruturas administrativas e a eleição de parlamentares. Para Viana, “o Brasil está numa fase de crescimento econômico, mas é preciso cuidar para que não aumentemos as despesas em demasia”.
As ponderações em torno das mudanças refletem uma onda de idéias separatistas. Tramitam no Congresso, entre outras, propostas de criação do estado do Gurguéia, para reunir 87 municípios desmembrados da parte sul do Piauí, e dos estados de Mato Grosso do Norte e do Araguaia.
O caminho até o estabelecimento formal de um estado, entretanto, é longo e árduo. Cumprida a aprovação do plebiscito, o que ainda precisa ser feito para tornar realidade a nova unidade federada? Após a promulgação da lei, caberá ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Pará, seguindo instruções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), realizar consulta à população "diretamente interessada" - no caso, todos os paraenses - sobre sua concordância ou não com a criação de Carajás e Tapajós. A Justiça Eleitoral terá seis meses para realizar esse plebiscito, a contar da promulgação das propostas.
Se o resultado da consulta popular for favorável, a Assembléia Legislativa do Estado do Pará deverá, dentro de dois meses, pronunciar-se sobre a iniciativa. A conclusão dessa manifestação parlamentar deverá ser informada, em três dias úteis, ao Congresso Nacional, a quem caberá elaborar projeto de lei complementar para dar prosseguimento à criação de Carajás e Tapajós. Se a Assembléia Legislativa não cumprir essas exigências nos prazos estabelecidos, o Congresso assumirá a continuidade do processo. 
Divisão causa situações peculiares na Amazônia
BRASÍLIA – A atual divisão territorial entre os estados cria situações peculiares, especialmente nas regiões de grande vazio populacional do Norte e Centro Oeste. Em razão de elementos da paisagem – como os rios – povoações e cidades acabam se situando geográfica e politicamente em um estado, quando estão mais próximas do estado vizinho, e ali buscam o atendimento de suas necessidades.
Defensor do estabelecimento de novos limites entre os estados, o senador Jorge Viana (PT-AC) dá como exemplo as localidades de Extrema e Nova Califórnia, vilas pertencentes a Porto Velho, capital de Rondônia, estado que toca o Acre a Noroeste.
Ainda dentro do território do Acre, o governo estadual construiu uma escola de ensino médio para atender aos habitantes de Extrema e Nova Califórnia, distantes 350 quilômetros de Porto Velho e 150 de Rio Branco, capital do Acre.
Conforme a assessoria de Jorge Viana, muitas vezes é preciso pensar mais no atendimento à população do que na rígida configuração geográfica.
O site Ariquemes On-line publicou em agosto de 2010 notícia que ilustra bem a situação. O tratorista Odair Carvalho, morador de Extrema, trabalhava na selva quando o seu filho Lucas nasceu. Prematuro, o recém-nascido precisou de atendimento especial e teve de ser levado a Rio Branco. Para voltar a Rondônia, a criança foi registrada só por Rosilene Cardoso, a mãe.
Posteriormente, o programa do governo de Rondônia Operação Justiça Rápida Itinerante foi procurado por Odair para corrigir o registro de nascimento do filho. "Foi rápido. Agora eu vou levar no cartório e mudar a certidão", disse o tratorista ao Ariquemes On-line.
Outro exemplo desse tipo de assimetria é o do município de Boca do Acre, localizado no Amazonas, mas distante cerca de 1,5 mil quilômetros de Manaus e apenas 200 quilômetros de Rio Branco, para onde os amazonenses daquela faixa de fronteira vão em busca de atendimento médico. Os secretários de Estado do Amazonas quando têm de visitar Boca do Acre, seguem de avião até Rio Branco e completam o trajeto de carro.
A assessoria de Jorge Viana esclarece que o senador não está propondo que este ou aquele município seja incorporado ao Acre. Apenas observa que casos como os de Boca do Acre, Extrema e Nova Califórnia são comuns no Brasil. E dão a medida da insegurança provocada por linhas divisórias traçadas quando o país ainda não dispunha de recursos como as imagens de satélite e muitas cidades não haviam surgido.


CHICO ARAÚJO (*)
(*) Colaboraram Simone Franco e Nelson Oliveira, repórteres da Agência Senado.

Embrapa Amazônia - Projeto comprova eficácia de alternativas sustentáveis

Resultados de pesquisas realizadas na
Reserva Extrativista Verde Para Sempre, no Pará

PORTO DE MOZ, PA – A sexta-feira, 27, foi um dia especial para os cerca de 10 mil habitantes da Reserva Extrativista Verde Para Sempre, em Porto de Moz, no Pará. A Casa da Cultura do município sediou a posse do novo Conselho Deliberativo da Resex Verde Para Sempre e a Embrapa Amazônia Oriental apresentou os resultados do Projeto Alternativas Sustentáveis para Geração de Renda nas comunidades da Resex, que começou em 2007 na região. 
O Conselho Deliberativo é o órgão máximo de gestão participativa da reserva. Vinte e seis conselheiros titulares e mais 26 suplentes encaram a responsabilidade de decidir o futuro da área, desde as atividades economicamente produtivas até as decisões políticas locais. Fazem parte do conselho representantes da Embrapa Amazônia Oriental, Prefeitura de Porto de Moz, Conselho Nacional dos Seringueiros, Fundação Viver–Produzir– Preservar, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto de Moz, Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz, Associação de Mulheres do Campo, Associação de Pescadores Artesanais, Igreja Católica, Igreja Evangélica e representantes das comunidades extrativistas que vivem na Resex Verde Para Sempre. 
Para o pesquisador Pedro Celestino Filho, representante da Embrapa que toma posse no conselho, esse cargo é um desafio para a instituição que busca levar tecnologias sustentáveis de produção para as comunidades da reserva alinhadas à política de proteção do local. A Resex Verde Para Sempre tem um milhão e 288 mil hectares habitados por cerca de 110 comunidades. A gestão da reserva é feita pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade.
Projetos e parcerias 
Nesse local onde a natureza é generosa, as políticas sociais nem sempre chegam. “Estamos muito distante de tudo e com pouco acesso a informações importantes pra nossa comunidade”, diz Genésio Ribeiro, da Comunidade do Arimum.
Desde 2007, a Embrapa Amazônia Oriental, em parceria com o ICMBio e o Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz, desenvolve o Projeto Alternativas Sustentáveis para Geração de Renda nas Comunidades da Reserva Extrativista Verde para Sempre, coordenado pelo pesquisador Alexandre Rossetto Garcia. O projeto identificou os processos mais adequados para melhoria de renda da produção local em harmonia com o meio ambiente, fomentando novas opções de trabalho e renda para as comunidades. 
O pesquisador explica que em consenso com os moradores da Resex foram escolhidas as comunidades de Cuieiras, Arimum, Carmelino e Itapéua como pólos para transferência de tecnologias e informações. O projeto gerou uma série de estudos e produtos que serão apresentados amanhã às 26 associações que representam as comunidades locais e ao Conselho Deliberativo da Resex Verde Para Sempre. 
Entre os produtos estão um vídeo que retrata a dinâmica social e econômica dos moradores da reserva e as mudanças obtidas a partir do trabalho desenvolvido no local. E também o livro “Resex Verde Para Sempre: uma garantia de direitos”, que apresenta informações sobre os direitos do cidadão brasileiro e os benefícios das políticas sociais de educação, saúde, previdência e assistência social e como todos podem acessá-los. A publicação é fruto da parceria com a Universidade Federal do Pará. 
Minibibliotecas da Embrapa 
O chefe geral da Embrapa Informação Tecnológica, Fernando Amaral, também está no evento para entregar oficialmente à Prefeitura e ao Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz, quatro kits de minibibliotecas da Embrapa. São produtos de informação em diferentes mídias, contendo tecnologias geradas pela Embrapa e seus parceiros e orientações para a produção agropecuária e de alimentos de qualidade, respeitando o meio ambiente e a realidade das comunidades rurais das diversas regiões brasileiras. Os kits vão para a resex Verde para Sempre e para a Biblioteca Pública do município. 

KÁTIA PIMENTA
contato@agenciaamazonia.com.br

Saga de soldados da borracha na Amazônia

BRASÍLIA — Esquecidos durante anos pelo governo brasileiro, os soldados da borracha mandados na década de 1940 foram para a Amazônia no chamado esforço de guerra do Brasil viraram notícia novamente. Em reportagem especial assinada pelos jornalistas Edson Luiz e Renata Mariz, do Correio Braziliense, a saga desses heróis é contada na série especial “Soldados da Borracha”.
As reportagens reproduzidas pela Agência Amazônia contam a saga desses brasileiros que trabalharam na Amazônia há mais de 70 e ainda lutam por seus direitos. Alguns desses heróis, ainda vivos, travam na Justiça uma batalha judicial para ter garantidos seus direitos de uma vida digna. Os soldados da borracha foram para a Amazônia, a pedido do governo de Getútilo Vargas, com a promessa de que iriam auferir benefícios financeiros. Até hoje eles estão à espera da ajuda federal.

DÍVIDA DE GUERRA 
Nordestinos que trabalharam na Amazônia há 70 anos ainda lutam por direitos

Em busca das honras e compensações prometidas quase sete décadas atrás, um grupo de 4 mil pessoas com mais de 80 anos poderá, finalmente, usufruir do que o governo se comprometeu a oferecer naquela época: fartura na Amazônia. Eles são os soldados da borracha, que, a partir de 1942, deixaram o Nordeste para cortar seringa na região, como parte do acordo fechado por Getúlio Vargas de fornecer a matéria-prima às forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. No lugar de riqueza e progresso, os seringueiros “alistados” encontraram fome, escravidão, doenças e miséria. 
Hoje, exigem do Estado brasileiro uma indenização individual de R$ 763,8 mil, como reparação moral e material por tudo que passaram. A expectativa é de que a decisão da Justiça saia em breve. Embora a Advocacia-Geral da União (AGU) já tenha apresentado suas contestações, refutando o pedido, documentos históricos obtidos pelo Correio revelam que as autoridades esconderam dos recrutados as condições precárias tanto da viagem quanto da vida que os esperava na floresta. A partir de hoje, uma série de reportagens mostrará também o improviso que marcou todo o processo capitaneado pelo governo. 
Valia tudo para honrar o compromisso de fornecer 35 mil toneladas anuais de borracha aos Estados Unidos. Criar uma propaganda enganosa de recrutamento, confabular com autoridades locais, provocar o engajamento da Igreja Católica, deixar trabalhadores sem água ou comida depois de alistados. A reparação que os nordestinos julgam merecer pode vir de decisão da 2ª Vara Federal em Rondônia, que analisa, desde 2009, o processo movido pelo Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros do estado. A instituição representa atualmente 4 mil pessoas, sobreviventes de um exército maior, de 50 mil homens mobilizados à época. O chamado do governo os colocava em posição de destaque. “Ao nordestino, cabe uma tarefa tão importante como a do manejo das metralhadoras (…) impõe-se-lhe o dever de lutar nas terras abençoadas da Amazônia, extraindo borracha, produto indispensável para a vitória, como a bala e o fuzil”, dizia a propaganda.

A campanha efusiva de recrutamento divergia muito da postura do Brasil poucos meses antes, ainda indeciso sobre a conveniência de enviar homens para lutar nos fronts europeus. Só depois que submarinos nazistas atacaram os navios Buarque, Olinda e Cabedelo em águas brasileiras, matando 55 pessoas, foi que o governo saiu do clima de flerte com a Alemanha de Adolf Hitler e escolheu ficar do lado das tropas aliadas na Segunda Guerra. Também pesou na decisão a ajuda econômica prometida pelos Estados Unidos. A partir de 1942, milhares de soldados da borracha começaram a ser deslocados para a ainda desconhecida floresta. Dois anos depois, 25 mil pracinhas partiram para a Europa sob as bênçãos do governo, que em troca receberia dinheiro para construir, entre outras obras, a Companhia Siderúrgica Nacional. Alheio a tanta negociação, Adelmo Fernandes Freitas se alistou, aos 12 anos, com o pai.
Ele queria ser soldado da borracha, apesar de não saber como era a mata. Conhecia apenas a seca e a miséria do Nordeste. Aos 80 anos, Adelmo tem uma recordação clara da chegada ao Acre, em 1943, na companhia do pai, Manuel Pedro Fernandes, e de outros sertanejos. “Aquilo era uma vida de bicho”, define o ex-seringueiro, que passou 15 anos dentro da floresta. Ainda menino, ele sonhava ganhar muito dinheiro no seringal. A esperança de ter uma vida melhor, porém, durou só o tempo do trajeto entre o seu Ceará e as terras acrianas, cerca de três meses. Na chegada, já foi possível prever que o plano de enriquecer naquele mundo tão diferente de onde foi criado não passava de ilusão.
O trabalho era incessante. “Seis dias para cortar a seringa e, no sábado, a gente defumava a borracha”, lembra Adelmo. Alguns poucos domingos de folga tinham de ser aproveitados para garantir a sobrevivência nos dias seguintes. “A gente aproveitava o dia para recolher cocos e juntar cavaco para fazer fogo”, conta o soldado da borracha. Medo da floresta, ele garante que não tinha. O pavor vinha das doenças que mataram vários de seus companheiros. Uma delas é a malária, da qual foi vítima por várias vezes. “Até perdi as contas”, observa o senhor. Na falta de um tratamento e diante das condições precárias de vida, ele fazia qualquer coisa para tentar se livrar do mal-estar e das dores provocadas pela peste amazônica. “No barracão, não tinha uma pílula sequer. Quantas vezes tive que ir para o igarapé para aliviar a febre”, recorda o ex-seringueiro. 
Direitos esquecidos 
“Os soldados da borracha foram vítimas de violação dos direitos humanos e viveram em regime de escravidão”, sustenta o advogado Irlan Rogério Erasmo da Silva, que defende a categoria na ação judicial. “Por isso, o pedido de indenização é por dano moral. A outra alegação é o dano material, já que o governo dos Estados Unidos mandou dinheiro para o Brasil pagar os trabalhadores que seguiram para a Amazônia, mas os seringalistas, donos do seringais e também conhecidos por patrões, ficaram com os recursos”, explica Irlan.
Em sua defesa, a AGU argumentará que os fatos ocorreram na década de 1940, quando vigente a Constituição de 1937, e em período de guerra. Portanto, de acordo com a contestação, o pedido dos soldados da borracha não podem ser atendidos, já que se baseia na Constituição atual, de 1988. A União salienta ainda que os efeitos patrimoniais reclamados por meio da ação são sujeitos à prescrição e que não existe, nos autos em questão, provas dos prejuízos sofridos pelo autor, requisitos necessários em demandas dessa natureza. 
 
O conto do Seringal

Promessas de enriquecimento rápido e de apoio às famílias deixadas no Nordeste faziam parte das artimanhas usadas pelos recrutadores para convencer sertanejos a trabalharem na Floresta Amazônica 
Classificados em relatórios oficiais de "desconcertantes e estúpidos", os boatos de índios que devoravam homens ou de que trabalhadores seriam vendidos a preço de ouro na floresta precisavam ser eliminados da cabeça do sertanejo. Não bastavam os conclames do presidente Getúlio Vargas dirigidos aos soldados da borracha, que "lutariam" na Segunda Guerra Mundial tirando seringa das árvores para abastecer as tropas aliadas com a matéria-prima. Foi preciso prometer muito mais. Dirigida à maioria analfabeta, a cartilha de recrutamento do governo apresentava, por meio de desenhos, feitos pelo artista plástico suíço Jean-Pierre Chabloz, uma nova Amazônia. "Pedaço do Brasil que não é mais o inferno verde, mas, atualmente, a terra da promissão", mentia o material publicitário, divulgado a partir de 1942.
Além das cartilhas, cartazes foram espalhados em cidades devidamente escolhidas — com base na época de maior ou menor desemprego — do Piauí, Maranhão e principalmente Ceará. Coordenada pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (Semta), órgão criado por Vargas, a propaganda prometia toda a pesca e caça, 60% da produção da borracha e muitas outras vantagens. Mas ainda esbarrava na desconfiança do "caipira", como eram chamados os nordestinos pelas autoridades em cartas confidenciais. Relatório de um médico que selecionou 217 homens, no período de um mês, em municípios cearenses, revela alguns dos artifícios usados no recrutamento, como um acordo com o empregador local para que dispensasse os funcionários solteiros, mais propensos a se tornarem soldados da borracha, e contratasse os casados. 
Aproveitando-se da paralisação do serviço industrial da carnaubeira cearense durante o inverno, no Vale do Jaguaribe, o médico ressalta, em certa altura do relatório, que 15 homens se alistaram "com a condição de serem alimentados até o dia do embarque". O fato é que, para muitos, devido à realidade precária do sertão, a única saída foi acreditar nas maravilhas que os esperavam na floresta. Até mesmo quem tinha um pouco de condição financeira sonhava com uma vida melhor. "Vi a floresta pelo jornal e achei bonita. Além disso, diziam que a borracha dava dinheiro", conta João de Deus Alencar, hoje com 88 anos. "Me arrependi. Se estivesse ficado lá no Ceará, minha terra natal, minha vida seria outra", ressalta.
Considerado uma pessoa que tinha um "saberzinho", já que seu grau de escolaridade era o equivalente à quinta série atual, João de Deus deixou a companhia dos militares americanos — com quem trabalhava — pela dos arigós, alcunha dada aos sertanejos que chegavam à Amazônia. Filho de um oficial do Exército, ele era recruta quando decidiu dar baixa para enfrentar a floresta. Nada sabia sobre a seringa até ser treinado no Pará, depois da viagem de navio. "Eles colocavam um tronco para que a gente treinasse a extração do leite", lembra o soldado da borracha. 
Como todos os outros homens recrutados, João recebeu, ao se alistar, um kit de viagem, composto de roupa, alpercata, chapéu, mochila, rede, prato fundo, caneco, garfo e colher. Além de assistência à saúde, deslocamento seguro e confortável, comida saudável, as promessas durante a campanha de mobilização incluíam o valor de Cr$ 6 (seis cruzeiros) diários, caso o soldado não prestasse serviços, e Cr$ 10 (dez cruzeiros) por dia de trabalho. A família do combatente da borracha também estaria protegida, de acordo com os compromissos assumidos pelo governo em documentos oficiais. Ninguém poderia imaginar que depois das privações ao longo da viagem, eles seriam enquadrados numa espécie de regime de escravidão.
Empregadores locais, líderes da comunidade e párocos eram os incentivadores não governamentais, mas com grande influência, do alistamento dos nordestinos. Carta de dom Helder Câmara, naquele momento chefe do Departamento de Assistência Religiosa, um dos setores do Semta, deixava claro que havia uma certa resistência dos religiosos da região. Mas explicava, em seguida, que os bispos e arcebispos decidiram dar suporte à mobilização por medo de perderem espaço para os padres e pastores norte-americanos. "Vindos de país rico e progressista trariam recursos técnicos e financeiros nada desprezíveis", escreveu dom Helder, repetindo o que tinha ouvido dos párocos da região, em relatório de janeiro de 1943. 
O artista 
Contratado pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, o suíço Jean-Pierre Chabloz era o chefe da Divisão de Desenhos Publicitários da Campanha Nacional da Borracha. Ele criou cartazes e cartilhas para ajudar no recrutamento. Montou também, com seus traços, desenhos do biotipo do nordestino, para ajudar os médicos na seleção. E foi a Belém para ver de perto a extração do látex, em seguida representando-a por meio de desenhos.
Confira aqui o hotsite da série Soldados da Borracha

Fonte:  Correio Braziliense

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