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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Genética pode ajudar a combater tráfico de animais


Galo-da-campina e trinca-ferro verdadeiro, 
os pássaros pesquisados

Pesquisa da bióloga Juliana Machado Ferreira, realizada no Instituto de Biociências (IB) da USP, criou bibliotecas genômicas em espécies de aves da fauna brasileira e desenvolveu um método para identificar diferenças genéticas entre animais da mesma espécie em regiões distintas para auxiliar a deter o tráfico de fauna. A técnica fornece mais informações para que espécimes apreendidos do comércio ilegal sejam devolvidos sem maiores danos.

Sob a orientação do professor João Stenghel Morgante, Juliana criou “bibliotecas genômicas” de quatro espécies de pássaros: galo-da-campina (Paroaria dominicana), trinca-ferro verdadeiro (Saltator similis), azulão (Cyanoloxia brissonii) e pixoxó (Sporophila frontalis). A primeira pergunta a ser respondida era se, com as informações obtidas sobre o DNA dessas espécies, seria possível identificar mais de uma população, de origens distintas, em uma mesma espécie. Se a resposta fosse afirmativa, restava saber se, com esses dados, seria possível descobrir a população de origem de cada pássaro apreendido.

Segundo a pesquisadora, “entender as mais prováveis origens de animais apreendidos do comércio ilegal é extremamente relevante tanto para auxiliar esforços de repatriação, quanto para acrescentar informações que ajudem a entender melhor rotas e padrões do tráfico”. “Ao repatriar animais ao ambiente, deve-se fazê-lo o mais próximo possível de sua população de origem para evitar um fenômeno potencialmente nocivo chamado ‘depressão por exocruzamento’”, recomenda a bióloga.

Juliana viajou pelos locais onde se encontravam as populações das quatro espécies, coletando amostras de sangue não só dos animais na natureza, bem como daqueles apreendidos do comércio ilegal. A partir do material obtido, ela fez estudos laboratoriais, de cunho genético, buscando encontrar a parte do DNA mais sujeita à mutação de cada amostra, os microssatélites. Esse processo foi feito com ajuda de bactérias, que multiplicaram as partes de interesse do material genético colhido. A bióloga explica que os estudos genéticos usam estes trechos do gene porque “por conta das altas taxas de mutação, a diferenciação entre populações isoladas tende a ocorrer mais rapidamente do que em outras áreas”.

Depois da criação destas “Bibliotecas Genômicas Enriquecidas”, foi possível responder à primeira questão proposta. Apenas o material genético do galo-da-campina e do trinca-ferro verdadeiro permitiram identificar e diferenciar se havia mais de uma população, devido à quantidade e a qualidade das amostras desenvolvidas.

O resultado obtido é de que o trinca-ferro verdadeiro apresentou apenas um grupo genético nas amostras de todas as áreas pesquisadas em que essa espécie vive. Os estudos também apontam que houve uma redução drástica no número de animais desta população nos últimos séculos, um gargalo genético. Já o galo-da-campina revelou três grupos genéticos distintos, ou seja, três populações diferentes ao longo das regiões analisadas.

Tráfico de animais e depressão por exocruzamento
A depressão por exocruzamento pode ocorrer caso animais de populações distintas sejam misturados e se reproduzam. Isso ocorre ou por conta da adaptação local de animais a sua região de origem ou porque os genes de cada grupo são selecionados para funcionarem melhor em blocos do que se forem misturados.

A bióloga coletou material também 
de pássaros apreendidos no comércio ilegal

Os resultados indicam que os trinca-ferro verdadeiros apreendidos pela polícia ambiental em operações de combate ao tráfico de animais provavelmente não levariam a casos de depressão por exocruzamento caso fosse soltos em locais diferentes de suas reais origens. A bióloga, no entanto, ressalta: “isso não quer dizer que se pode soltar essa espécie sem critério, já que o aspecto genético é apenas um dentre muitos que devem ser levados em conta”.

Já com os galos-da-campina, por aparentarem, no estudo, ser provenientes de três diferentes populações, deve-se ter um maior cuidado no momento da soltura, quando confiscados por forças policiais. Sobre esta última espécie também pode-se afirmar, a partir da pesquisa, que há alta probabilidade de os animais apreendidos em São Paulo serem provindos de uma região que abrange o norte da Bahia, e os estados de Pernambuco e da Paraíba.

A pesquisa é descrita na tese de doutorado Contribuição da genética de populações à investigação sobre o tráfico de fauna no Brasil: desenvolvimento de microssatélites e análise da estrutura genética em Paroaria dominicana e Saltator similis ("Aves: Passeriformes: Thraupidae), defendida no IB em agosto de 2012.



Imagens: Juliana M. Ferreira e Carro/ SOS Fauna
Por Lara Deus - lara.deus@usp.br
Mais informações: email juliana@freelandbrasil.org.br; com Juliana Ferreira

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