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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Fernando Pessoa - Arquivo Pessoa - Obras Inéditas - Canto a Leopardi




Fernando Pessoa - Arquivo Pessoa - Obras Inéditas


Canto a Leopardi


Ah, mas da voz exânime pranteia

O coração aflito respondendo:

"Se é falsa a ideia, quem me deu a ideia?

Se não há nem bondade nem justiça

Porque é que anseia o coração na liça

Os seus inúteis mitos defendendo?


Se é falso crer num deus ou num destino

Que saiba o que é o coração humano,

Porque há o humano coração e o tino

Que tem do bem e o mal? Ah, se é insano

Querer justiça, porque na justiça

Querer o bem, para que o bem querer?

Que maldade, que [...] , que injustiça

Nos fez para crer, se não devemos crer?


Se o dúbio e incerto mundo,

Se a vida transitória

Têm noutra parte o íntimo e profundo

Sentido, e o quadro último da história,

Porque há um mundo transitório e incerto

Onde ando por incerteza e transição,

Hoje um mal, uma dor, e [...] , aberto

Um só dorido coração?"


[...]


Assim, na noite abstrata da Razão, Inutilmente, majestosamente,

Dialoga consigo o coração,

Fala alto a si mesma a mente;

E não há paz nem conclusão,

Tudo é como se fora inexistente.


Fernando Pessoa
1934








terça-feira, 3 de agosto de 2021

Khalil Gibran - Livro O Profeta - O amor









Khalil Gibran: O Amor 



E alguém disse:
Fala-nos do Amor:

- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem
vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor
vos engrandece, também deve crucificar-vos
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol,
também penetrará até às raízes
sacudindo o seu apego à terra.

Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.

Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos
do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida.

Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair do campo do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.

O amor não possui
nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão se estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado,
e na boca, um canto de louvor.


Khalil Gibran






segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Fernando Pessoa - Bernardo Soares, Livro do Desassossego - Item 112




Fernando Pessoa - Bernardo Soares, Livro do Desassossego - Item 112


Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.

Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é objeto, mas, em exata verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.

As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois 'amo-te' ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada uma quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstrata de impressões que constitui a atividade da alma.

"É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar."


Fernando Pessoa 





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