
O problema pode ter efeitos nefastos nas diferentes espécies aquáticas, como a diminuição da fertilidade dos peixes, em virtude de as Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) não estarem projetadas de forma a eliminar estes compostos provenientes da rede de esgotos domésticos e hospitalares.
Os resultados obtidos pelo primeiro estudo do gênero realizado em águas nacionais confirmam uma suspeita já existente e colocam Portugal entre os países que devem continuar a fazer investigação sobre as formas de prevenir um problema à escala global.

É fundamental aumentar a eficiência na eliminação dos resíduos de fármacos pelas ETAR“Este tipo de investigação é importante porque chama a atenção para uma questão que tem levado vários grupos científicos em todo o mundo a trabalhar tanto no sentido de encontrar metodologias capazes de aumentar a eficiência na eliminação dos resíduos de fármacos pelas ETAR como a estudar as eventuais consequências para o meio ambiente, em geral, e para a saúde pública, em particular”, sublinha a autora do estudo publicado na revista «Science of the Total Environment».
Segundo a investigadora, “ainda não é possível impedir que os resíduos de fármacos cheguem às águas dos rios”. No campo da prevenção, e enquanto se fazem estudos com vista a procurar meios de aumentar a eficiência das estações de tratamento, “a recolha de medicamentos fora de prazo ajudaria a minimizar o problema”.
Ao longo de um ano foi avaliada a distribuição de alguns compostos farmacêuticos nas águas superficiais do estuário do Rio Douro com a realização de uma colheita em cada estação do ano. Os resultados mostraram que o composto encontrado em concentrações mais elevadas foi a carbamazepina, um fármaco utilizado no tratamento da epilepsia.
O estudo envolveu fármacos de diferentes classes terapêuticas, como o diazepam (ansiolítico), o propranol (bloqueador beta), o ácido fenofíbrico (antidislipidémico), o sulfametoxazol, o trimetoprim (antibiótico) e a carbamazepina (antiepilético).

Ao longo de um ano foi avaliada a distribuição de alguns compostos farmacêuticos nas águas superficiais do estuário do Rio Douro. O critério que esteve na base da escolha levou em conta o grau de consumo, a frequência de detecção em estudos realizados noutros países e ainda a persistência destes compostos em ambientes aquáticos.
Concluiu-se também que existe uma tendência para maiores concentrações destes resíduos nas áreas mais urbanizadas. Preocupante foi ainda a constatação de que outros fármacos não analisados no estudo poderão estar presentes nas águas durienses, existindo, o risco potencial de interferência no equilíbrio dos ecossistemas das espécies aquáticas. Um dos desequilíbrios prende-se com a feminização dos peixes machos, em consequência, por exemplo, da existência de anticoncepcionais no Douro.
O estudo foi apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Brasil, e pela Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário (CESPU), num projeto de Doutoramento da aluna Tânia Vieira Madureira.
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