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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A dança das olivas

Noites escuras, permeadas por ventos fortes e marés cheias, podem esconder um dos comportamentos mais incríveis e enigmáticos dentre as espécies de tartarugas marinhas.



Tartaruga oliva protegendo seu ninho

As praias cortadas por rastros e sinalizadas com estacas brancas, marcadoras de ninhos, pode não chamar atenção se você não for um observador curioso. Noites escuras, permeadas por ventos fortes e marés cheias, podem esconder um dos comportamentos mais incríveis e enigmáticos dentre as espécies de tartarugas marinhas: a desova da tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea). Se tiver sorte e o privilégio de acompanhar esse momento, você vai se surpreender: as olivas sabem dançar.


Mesmo sendo pequenas, as olivas depositam grande quantidade de ovos - cerca de 100 a cada postura - e completam a desova com muita rapidez. Depois elas dançam para cobrir o ninho. Sendo uma das menores e mais leves tartarugas marinhas do mundo (média de 42kg de peso e 73cm de comprimento de casco), na hora de fechar o ninho batem as laterais da carapaça para garantir a compactação da areia e a proteção dos ovos. E assim que a dança acaba, voltam logo, com pressa, para o mar. As outras espécies, que são maiores e mais pesadas, não precisam desse recurso, pois o próprio peso sobre o ninho já garante a compactação da areia.


Se não for oliva e dançar durante a desova pode ser uma tartaruga suspeita de hibridismo. As análises laboratoriais comprovaram as observações registradas em campo: cerca de 30% das tartarugas cabeçudas (Caretta caretta) amostradas em Sergipe possuem herança genética de olivas. As fêmeas de oliva acasalaram com os machos de cabeçuda e a habilidade da dança foi herdada pelas filhas híbridas.

Esse percentual de hibridismo pode ser um reflexo da densidade de desovas registradas por espécie em Sergipe: 80% a 85% de olivas (Lepidochelys olivacea); 10 a 12% de cabeçudas (Caretta caretta); 2% a 3% de pente (Eretmochelys imbricata) e o restinho de verdes (Chelonia mydas).

As tartarugas oliva podem atingir a maturidade sexual entre os 10 e 18 anos e apresentar ciclo reprodutivo anual. Além da fidelidade às praias sergipanas e baianas, também são fiéis ao trecho da praia. Os eventos reprodutivos ocorrem sempre próximos uns dos outros, não aleatoriamente, com mais precisão entre desovas consecutivas.


A maioria desova apenas uma vez ao longo da temporada, mas há registros de até três posturas no ano. O intervalo entre uma desova e outra (conhecido como intervalo internidal) dura cerca de 21 dias. Durante este período elas não ficam paradas. As olivas abordadas em reprodução em Sergipe e rastreadas por satélite ocuparam uma área aproximada de cinco mil quilômetros quadrados ao longo da plataforma continental, praticamente todo o litoral de Sergipe. Tal fato comprova que não resultam do acaso a capacidade de orientação e o retorno ao mesmo trecho de praia para nova postura.

Na temporada reprodutiva de 2010/2011, as olivas totalizaram mais de 6.800 desovas e quase 290 mil filhotes nas praias da Bahia e Sergipe. Esses resultados colocam o Brasil em um ranking de importância especial dentre os sítios de desovas de olivas do Atlântico oeste. Estudos genéticos estão em curso para confirmar a existência de fluxo gênico entre as populações do Suriname e Guiana Francesa. Essa possibilidade pode estar associada à recente colonização do Atlântico.

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