Por Isabel Robinet
Jornal de Religiões Chinesas
Traduzido para o Português por Jaqueline Sá Freire –Instituto Takkemussu Hikari Dojo – R.J.
Eles caminham por fogo abrasante e não se queimam; pisando com leveza, eles atravessam assustadoras correntezas; eles voam no ar, com o vento como sua sela e as nuvens como suas carruagens. Erguendo a vista, eles enxergam o Pólo Púrpura, abaixando-os, eles se estabelecem em K'un-lun. Como podem os homens, cadáveres ambulantes, vê-los? Se eles querem, se divertem entre os seres humanos, mesmo assim eles escondem sua verdadeira natureza e ocultam seu caráter subrenatural; externamente, eles se parecem como mortais comuns
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Essa é a imagem popular dos imortais: absolutamente evanescentes e fantásticos, andarilhos evasivos e imprevisíveis que têm especial interesse por espécies de aves, que lhes servem como montaria ou que lhes faz companhia. Mestres do fogo, do vento e da água, eles se divertem aonde querem. Eles criam um grande brilho para anunciar suas chegadas ou desaparecem com um clarão.
Lao-tzu, Chuang-tzu e Huai-nan-tzu olham os imortais de maneira mais filosófica, com um aspecto metafísico, mas eles não negam certas características que se confundem com a imagem popular dada pelos hagiógrafos. Imóveis e invulneráveis, os santos não têm medo de rinocerontes, tigres, ou exércitos, como diz Lao-tzu (cap. 50). "Mesmo através do grande fogo dos pântanos, não podem queimá-lo, mesmo que os grandes rios congelem, não podem esfriá-lo, mesmo que o raio parta as montanhas e enormes ondas sacudam os mares, eles não podem assustá-lo," diziam Chuang-tzu e Huai nan-tzu.
Como muitos dos hagiógrafos, Chuang-tzu também os descreve "entrando na água sem se molhar e penetrando no fogo sem se queimar". Finalmente, os textos revelados, o Ching, reservado para os iniciados, descrevem a imagem do santo sob a forma de uma promessa oferecida ao seguidor que completou sua preparação, uma imagem que inspira seus esforços e alimenta suas esperanças. Luminosos como o jade, os santos emitem uma luz vermelha, e um alo rodeia suas nucas. Seus corpos são de luz, suas vestes de plumas. Sua visão e audição são agudas, ele é invulnerável à água, ao fogo, aos exércitos e às bestas selvagens. Ele tem total poder sobre os espíritos e os elementos naturais.
Sendo de proporções cósmicas, o imortal se assemelha ao sol e à lua e vive tanto quanto a terra e o paraíso. Mesmo que os procedimentos para chegar à imortalidade variem, a imagem do Taoísta Imortal traçada por Chuang-tzu, Pao-p'u-tzu, seitas "aristocráticas" como a de Mao Shan ou as que são encontradas em hagiografias populares permanecem muito semelhantes.
Neste contexto, gostaria de enfatizar duas características principais, que me parecem conter um valor simbólico muito especial. A primeira é a relação mantida entre os imortais com a luz e as sombras, o que é conectado com seus poderes de se tornarem invisíveis ou visíveis. A segunda se refere à característica que os define e os diferencia dos mágicos: o Santo Taoísta se eleva para o paraíso. Gostaria de demonstrar que esta elevação é ligada a um movimento contrário de descida para a terra.
Esses dois pares de simbolismo parecem ainda mais serem ligados, como vou mostrar gradualmente. “Quando ele fica, nós não sabemos aonde ele está, quando ele parte, não sabemos aonde ele está indo, subitamente ele se vai e subitamente retorna”, diz Huan-nan-tzu, em uma longa passagem com a descrição do santo. Ele também diz que “ele está aqui, sem aparecer, e fica, em nenhum lugar. Ao se mover, ele não tem forma, em movimento, ele não tem corpo. Ele está presente como se estivesse ausente, ele vive como se estivesse morto".
É claro que o que Huan-nan-tzu quer dizer é que o santo, estabelecido no centro do mundo, se une aos opostos, "se mantém na unidade e desconhece o dualismo". Mas o que podemos pensar dos súbitos aparecimentos e desaparecimentos destas pessoas que são imortalizadas pela crença popular: às vezes aqui, outras lá, tanto aqui como lá, desaparecendo subitamente e reaparecendo vários séculos depois, sem se importar com o tempo ou o espaço, algumas vezes numerosos, em outras épocas, completamente ausentes?
"Ele filtra sua luz e se mistura com a poeira" e "ele é a luz que não brilha", diz Lao tzu (cap. 56 e 58). Ele sabe como não ser percebido, tão grande é a sua habilidade de se adaptar ao ambiente. As aves não o temem, seus passos não deixam marcas. "Ele se transforma em madeira quando entra na floresta, ele se transforma em água quando permanece na água", diz um texto Taoista do século quatro.

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O espelho é outro símbolo da impassividade e da "apatia" do imortal que, nas palavras de Chuang-tzu, "usa sua alma como se fosse um espelho. Um espelho do paraíso e da terra." Sua "imobilidade é como a do espelho, suas respostas como as de um eco." O espelho aqui é claramente relacionado ao eco, que tem a mesma natureza da sombra. Como uma sombra, o espelho é um símbolo do que nunca precede, não tem causa, nem nada retém. O santo, da mesma maneira, continuando com a metáfora de Chuang-tzu, não corre com as coisas nem as atrasa, ele não lidera os outros, e sempre os segue.

Se esta relação é sujeita a dúvida de um ponto de vista semântico, ainda assim é rica em significado de uma perspectiva simbólica. De fato, só falta ser feita a referência quanto ao extensivo uso da metáfora do espelho pelos islâmicos. Assim, não foi por acaso que Demieville, ao comentar sobre o espelho, enfatizou o mesmo tipo de ambigüidade das expressões chinesas. A mesma ambigüidade existe com respeito ao caractere lido como ching, que significa “luz”, mas que é muito escrito com a palavra ying, "sombra", escrito da mesma forma, mas com um sinal a mais. Ying, a sombra, também é confundido com hsing, corpo: assim, expressões como "disfarçar toda a luz e esconder seu brilho” (ni-ching tsang-kuang) também pode ser substituída por ”disfarçar seu corpo e esconder sua sombra” (tsang-hsing yin-ching).
A pele abandonada pela serpente é comparada à sombra por Chuang-tzu. No taoísmo, também é a imagem do corpo que o taoísta abandona no momento de sua falsa morte, a "libertação do corpo." O corpo é sombra, ying, mas também é luz. A fisiologia Taoísta acredita haver 24 pontos luminosos, ching, que, apos um período bem sucedido de preparação, se unem para levar o praticante para o paraíso. Certos textos falam de 120 hsing-ying (lit. "formas-sombras") e 120,000 ching-kuang ("essência-luz").
Os espelhos revelam o futuro, fazem com que a divindade apareça, e mostram a verdadeira forma de demônios disfarçados com falsas aparências. Alguns deles, os espelhos yang-sui, quando expostos ao sol, fazem com que o fogo do sol apareça, outros, chamados de fang-chu, quando expostos à lua, coletam o orvalho celestial.

Os espelhos estão nesta categoria. Fazer aparecer é coletar e condensar. Precipitar uma luz ou uma forma que é naturalmente invisível. Durante a meditação, o taoísta, como o espelho mágico, reúne e condensa, e torna-a visível em si e para si as divindades que ele invoca pelo nome e nas quais ele concentra seu espelho mental. Um dos exercícios consiste em ver os próprios olhos transformados em brilhantes espelhos nos quais se reflete o próprio corpo. Em outro exercício, o adepto vê sua respiração transformada em um espelho, que depois ilumina todo o seu corpo, e também os 24 espíritos do ching, os pontos luminosos do corpo.
Em exercícios para absorver as essências do sol e da lua, o praticante como os espelhos yang-sui e fang-chu, capturam as essências luminosas dos corpos celestes, e as transforma em si mesmo, ou em um fogo que o engolfa e o leva para a apoteose, ou no fluido da vida, que o nutre. Como a palavra ching, a expressão yang-sui se tornou o nome de uma carruagem celestial, que leva o praticante ao paraíso. Levando a luz para dentro por sua visão interior, nei chao, assim levando luz para os órgãos internos, o adepto os torna luminosos. Ele transforma seus órgãos na morada dos espíritos que, como diz T'ai-p'ing ching, apenas gostam de viver em lugares luminosos e calmos, como uma poça espelhada. Ele absorve a luz dos corpos celestes e interiorize a luz de seus olhos, as estrelas de seu próprio corpo, e brilha por dentro. Assim ele atinge o céu, que às vezes é chamado de "luz invertida” (tao ching) porque, por se situar acima dos corpos celestes, recebe a luz por direção oposta. Mas a reflexão desta luz também se desdobra, se divide e reflete.
Um processo usado para que a pessoa se multiplique e adquira o dom da ubiqüidade (qualidade do que está em toda parte, do que é ubíquo, onipresente) consiste em olhar para a própria sombra ao sol, na água e em espelhos. Essa habilidade de se multiplicar é designada por expressões como “dividir sua luz em dez mil corpos”. É muito parecida com a habilidade do santo de resplandecer. Tendo atingido o apogeu de sua arte, o imortal realmente se torna como o sol e a lua, dele emanam luzes coloridas que anunciam sua aproximação, como as que avisaram a Yin Hsi, o guardião da passagem, da chegada de Lao-tzu. Um halo rodeia sua nuca, com faíscas vermelhas. Além disso, “em suas pupilas existe uma luz fluida da cor de jade púrpura, ele pode ver por dez mil li, ele enxerga tudo, sem limitações... em seus olhos, uma essência líquida idêntica às estrelas ilumina seu rosto com um brilho dourado. Ele espalha sua luz por dez mil li, iluminando um quarto escuro"; ele se transforma em uma "luz líquida" que flutua por toda a terra. Muitos exercícios terminam com um grande clarão, que “ilumina o interior e o exterior, transformando o corpo em algo tão impressionante como o sol e a lua”.
A água, associada com a lua, é a “luz interiorizada”, como diz Huai-nan-tzu. É a água que Lao-tzu usa como modelo de docilidade e maleabilidade, a água que reflete como a alma tranqüila do santo. Um texto sobre espelhos mágicos começa com esta explicação: "a luz interior, nei ching, da água a dos metais, faz com que o yang apareça com o yin." Por isso, é possível se multiplicar e fazer com que os demônios apareçam. A luz interior, nei ching, que é a força yin (água e metal) da contradição e da coagulação, torna possível fazer com que demônios invisíveis e deuses apareçam naturalmente. Os espíritos são luz no interior escuridão por fora, diz o T'ai-p'ing ching. A luz exteriorizada, que irradia a força yang da expansão, se manifesta através do efeito da água e do metal, dos espelhos e da lua. A habilidade do santo consiste em centralizar as forças invisíveis, fazendo com que o yang apareça ao se reduzir, e ao mundo inteiro, ao estado de espelho. Criador de iluminações divinas, ele faz com que o aspecto externo das coisas desapareça, e permite que sua “forma verdadeira” irradie, para manifestar o que é naturalmente invisível.
Ele se tornou um mestre da arte de aparecer e desaparecer. Como Lao-tzu, que pode se fazer “irradiante ou escuro, às vezes desaparecendo, às vezes presente," o adepto. No final de sua ascensão espiritual pode “se esconder ou de mostrar, aparecendo ou às vezes, desaparecendo”. De acordo com a imagem popular do santo, ele pode “ao estar sentado, estar presente, ao se levantar, estar ausente”. Uma frase de Lao-tzu, "Conheça o branco e guarde o negro", tem sido usada como titulo de um exercício em que todo o corpo do adepto se acende por dentro e por fora, o que torna possível "desaparecer e se multiplicar". Conservando sua luz, mas se banhando no brilho, o santo esconde o que mostra e mostra o que esconde. Ele é a encarnação do principio funcional do símbolo: esconder e demonstrar. Usando uma expressão de Chuang-tzu, podemos dizer que “com um sinal (lit. um dedo, chih), ele mostra que o sinal é um não-sinal,", ou melhor, "com um não-sinal, ele mostra que o sinal é um não-sinal."

Invisibilidade, a capacidade de desaparecer, não consiste apenas em ser apagado ou se tornar um espelho que é apenas o reflexo passivo da luz. E também a invisibilidade não consiste de ser o carregador obscurecido da vida como Lúcifer. Isso tem um duplo significado. Na verdade, o homem, como oposto aos demônios e espíritos, é naturalmente visível; fazê-lo invisível é reverter a um processo que é o oposto da precipitação, concretização e coagulação. Alem de amarrar a respiração Primal e a coagulação das nove respirações originais, o imortal desaparece ao final dos exercícios de desamarrar, sublimar e rarificar ("reduzir e reduzir novamente," diz Lao-tzu). Estas práticas o tornam refinado e etéreo.
Um personagem aparece mais que uma vez nas hagiografias. Assim, o Lieh-hsien chuan diz que Ch'ih-sung tzu e Ch'ih-chiang Tzu-yu sabiam como "subir e descer com o vento e a chuva" e Ning Fung-tzu subiu e desceu com a fumaça. Pao-p'u-tzu devota o capitulo 17 aos métodos que permitem que se escale montanhas, que são técnicas similares às que permitem que se atravesse corredeiras e rios. Mais adiante, no mesmo capítulo, ele discute uma técnica que torna possível “voar ou submergir a vontade” ou “voar e subir e descer”. Os oito imortais que rodeiam o Príncipe de Huai-nan disseram que sabiam como "fazer vir o vento e a chuva quando estão sentados, e ao se levantarem, como fazer desaparecerem as nuvens e o nevoeiro.”.

Os textos Taoístas revelados usam as mesmas imagens: prometem ossos leves e roupas de penas para quem se aplica assiduamente à meditação. Ascensão em "pleno dia" é apresentada como um sinal da mais alta realização espiritual, e é comparada com a “libertação do corpo” que é reservada para quem não conseguiu refinar e tornar suficientemente leve seu corpo. Sobre as discussões sobre os imortais no infinito, Lieh-tzu diz que eles estão “escondidos no paraíso." T'ao Hung-ching se refere à Hsu Yuan-yu, o famoso Taoísta do inicio do século 4, como alguém que "escondia seu esplendor, fugiu do mundo e escondeu sua luz dentro dos nove reinos vazios." Um exercício Taoísta recai sobre a técnica apropriada para "absorver as emanações dos corpos celestes, para ficarem escondidos no paraíso.” um trabalho do Tao tsang, o Cânone Taoísta, tem os seguintes subtítulos: "o livro para” ou "O livro para se esconder no paraíso ou para se disfarçar na Lua”. Isto explica um método para absorver os raios da lua e do sol (pao-kuang). Os Taoístas se escondem na própria luz; eles "retornam para o brilho das estrelas” e “se escondem escapando para a lua e para o sol”.''
Em oposição a estes métodos celestiais, outras técnicas permitem que uma pessoa se esconda na terra. A arte de “se elevar em plena luz do dia” se corresponde, de fato, a arte de "mergulhar na terra em plena luz do dia." Consequentemente, Pao-p'u-tzu diz que "o sol e a lua não possuem luz, nem homens nem demônios são visíveis. De maneira semelhante à Lao-tzu, que "está satisfeito em lugares inferiores" e como a "pérola que ilumina a noite," o Taoísta se esconde em cavernas e buracos escuros de lugares altos, as montanhas. Além disso, se esconder na luz do paraíso ou na obscuridade da terra, cujas profundezas, de acordo com a cosmologia sagrada do Taoísmo, atingem os céus, o santo também pode se esconder nas “sombras do paraíso” da luz obscura de estrelas escondidas.
Na cosmologia Taoísta, a Ursa Major é cercada por estrelas escuras, aonde as esposas das divindades da constelação vivem. Estas divindades femininas lançam uma luz yin sobre as estrelas, que formam uma aura exterior para a luz yang das estrelas da constelação. (deve ser lembrado que T'ai-p'ing ching afirma que espíritos são luzes por dentro e escuridão pelo lado de fora). Estas divindades são os Nove Yin do Senhor Imperador, invocados pelos adeptos em exercícios de desaparecimento. Eles são designados por nomes reveladores: "(Aquela que) se esconde por transformação e escapa para a fonte;" "(Aquela que) disfarça seu brilho e esconde sua luz;" "(Aquela que) cobre seus traços e dispersa sua forma." Como contrapartes celestiais das nove sombras Subterrâneas, são invocadas quando alguém deseja "estar escondido nas oito direções" e "esconder seu corpo e sua luz". Também são as contrapartidas exatas do sol e da lua, que como assegura T'ao Hung-ching, brilham no interior da terra ou em cavernas nas montanhas; as grutas celestiais do Taoísmo. Há duas maneiras de "desaparecer": descer para a terra ou ascender aos céus. A sombra subterrânea (Yin de Yin) corresponde à escuridão celestial (Yin de Yang) e os dois luminares visíveis no céu (Yang de Yang) correspondem aos que estão enterrados nas cavernas da terra. (Yang de Yin).

Este movimento para baixo é associado também com as divindades que, formadas pela "união" da respiração primordial, aparecem para adeptos devotos para suas praticas assíduas de invocação e oração. Estas divindades trazem a maneira de se adquirir a imortalidade, livros sagrados, magias, ou as ervas da vida. "Após completar o Tao pelo próprio bem, o santo desce em resposta (aos pedidos dos seguidores) e deve se unir aos seres." "Retornar à luz," diz um texto, é "se fundir a dez mil metamorfoses." Modelando-se neste processo de descida, um discípulo Taoísta coloca em pratica os ensinamentos sugeridos para refinar seu corpo e voar para os céus. Da mesma forma, ele "une sua respiração " e a concretiza. É ele que une e separa. Ele "desfaz" os nós da morte que cada um carrega desde que nasce.
Assim, ele invoca as divindades que ocupam os pontos luminosos (ching) de seu corpo. Alem disso, ele faz a "Essência amarela e a respiração Harmoniosa" das estrelas da Ursa Major descerem para seus campos inferiores de minério de mercúrio, a "Câmara de Yin" ou o "Portal da Terra." Ao contemplar o sol e a lua e fazê-los entrar em seu corpo, a "água amarela florescente da lua," que é um "liquido denso da flor amarela," se transforma em um elixir denso em sua boca, com cor de ouro e sabor de mel. Esta água amarela, diz o Chen-kao, é a mesma água que flui do K'un-lun no fim do mundo. É a água do sol e da lua e a bebida da imortalidade. Esta bebida que é a condensação do adepto do espírito dos corpos celestes é descrita em numerosos textos e é comparada a uma laranja em sua cor, com o tamanho de uma pílula ou uma pequena bola, e com sabor de mel. Pao-p'u-tzu sabe bem isso.


Este tema também pode ser relacionado à idéia Taoísta de que a essência da vida é encontrada na água dos rins, que Huai-nan-tzu compara especificamente ao tesouro da dinastia Han. A carpa cor de fogo que mergulha nas profundezas carregando Ch'in Kao lembra o peixe de minério de mercúrio de Pao p'u-tzu. Esses peixes viviam na água vermelha do rio Nan yang (Yang do sul). Na superfície da água eles faziam aparecer uma luz forte, vários dias antes do solstício de verão, e seu sangue permite que uma pessoa caminhe sobre a água ao ser passada nos pés. Para usar uma terminologia alquímica, vemos que a respiração do coração (que corresponde ao fogo) que se esconde nos rins (que corresponde à água) é o complemento do fogo liquido que corre no Palácio celestial do Puro
Yang que representa uma fase do sol durante o solstício de verão. Como o imortal que faz com que a chuva caia e o vento sopre, o Taoísta faz com que "as águas que estão nas profundezas" fluam; estas são as emanações astrais transformadas por ele em uma saliva que nutre, ou as águas de K'un-lun, que, em termos de alquimia interna, reside no cérebro como saliva (o Yin do Yang). Ele também faz com que a respiração que está nos rins suba. Os rins são o "Oceano da Respiração" e contem o Yang doYin, a "obscura pérola" que se equivale à essência da lua que brilha na noite e que se encontra no fundo das águas. Ele "a leva para o topo das montanhas, e leva o fogo ao fundo dos oceanos". A arte em si consiste e fazer subir o que está em baixo e fazer descer o que está em cima. Finalmente, tudo será unido no meio, aonde o embrião da imortalidade ou a "pérola brilhante" é gerada. Isso se chama de arte complexa de ch'en fou ("mergulhar e flutuar”), que dizem ter sido praticada por Lao-tzu e é relacionada à arte da alquimia. O glosador de Wu-chen p'ien descreve esta arte em toda a sua complexidade:

entra e sai. Seus movimentos verticais de descida e ascensão se combinam as atividades horizontais de contração e expansão. As viagens feitas até o fim do mundo durante a meditação são completadas pela absorção de emanações pelos quatro pólos que se reúnem no corpo do adepto como forma de nutrição.
Também é revelada neste contexto o simbolismo da ginástica Taoísta que alonga e estende o corpo. Estas técnicas de ginástica são chamadas de ch'u-shen, que também e aplicado à capacidade de Lao-tzu de "se encolher e estender". A primeira parte deste ensaio que foi devotado ao poder do imortal de brincar com a luz e a sombra, ocultação e manifestação, que trata de movimentos horizontais de expansão e contração, entrada e saída. A segunda parte trata dos movimentos verticais de ascensão e descida. Estes movimentos gêmeos correspondem, primeiro, à relação horizontal entre os pulmões e fígado (relacionados ao leste e oeste), sol e lua, dia e noite, ou aos equinócios. Na dimensão vertical existe a relação polar entre os rins e o coração (ou a mente) que corresponde a Yin e Yang ou aos solstícios. Os rins são considerados o ponto de partida para o trabalho de ascensão. Desta forma eles são a Origem, mas a alquimia interna também os trata um microcosmo contendo os dois princípios básicos necessários para esta arte: chumbo e minério de mercúrio. Este microcosmo é estruturado em ordem inversa, pois o chumbo, que é relacionado com o norte e é negro (a cor do norte) por dentro e branco (cor do oeste) por fora, é colocado do lado esquerdo (a direção do Yang do Leste) dos rins (ou no rim esquerdo). O chumbo, desta forma, representa a "Correta Respiração da Madeira” (em relação ao Leste) e é o Yang de Yin.

O Mediador de Yin e Yang

De maneira similar e inversa na terra, o Yin que "abraça" o Yang sobe e é representado no trigrama K'an. Pelo ponto de vista alquímico, estes dois são dragões, o verdadeiro Yang do coração, emanando do trigrama Li, e o tigre, a água real dos rins, emanando do trigrama K'an. Se elevando e descendo, se cruzando em seus movimentos, o Yin que é influenciado por um movimento ascendente yang, e o Yang que é influenciado por um movimento descendente yin, unidos no Centro. Eles continuamente repetem o curso circular de cima para baixo e vice versa. "Uma subida, uma descida, e o ciclo recomeça," diz o alquimista Taoísta parafraseado as famosas palavras de Hsi tz'u: "um Yin, um Yang, e isto é o Tao". O adepto assim faz com que os deuses desçam e subam aos céus para conversar com eles. Ele encarna os deuses celestiais e lhes empresta sua materialidade ou ele mesmo sobe até eles; os manifesta ou desaparece com eles.



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