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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Vídeo-Documentário ‘Mata Atlântica’ - Casa de Cinema




‘Mata Atlântica’, de Paulo Rufino, Casa de Cinema

O Vídeo-Documentário ‘Mata Atlântica’, dirigido por Paulo Rufino, com produção da Casa de Cinema, teve o reconhecimento oficial da RBMA por ter abordado o bioma de uma forma extremamente didática e acessível , com belas imagens e produção. O CN-RBMA apóia e incentiva produções como esta para que estejam cada vez mais ao alcance do público leigo e à disposição das escolas . O vídeo a ser exibido é uma versão de 26 minutos . De acordo com o diretor e roteirista Paulo Rufino “’Mata Atlântica’ é o primeiro episódio de uma série de oito vídeo-documentários sobre os principais ‘Domínios de Paisagens’ brasileiros . Possui duas versões , para TV com 52’ e uso escolar com 26’. Mais do que um projeto de cunho ‘técnico-ambientalista’, estes documentários vêm também nestes ambientes o palco dos principais temas de nossa História, a ocupação humana, a criação do território, a formação da brasilidade. Assim, ‘Mata Atlântica’, o primeiro dos oito, é um filme sobre nosso passado, descoberta e colonização. É o filme dos ciclos econômicos e de nossa primeira grande troca ambiental. É o filme em que, do Li toral e da umidade atlântica, nasce o país que temos.”



Parte 1


Parte 2

Parte 3


Quem matou a Mata Atlântica? Este texto, apesar de datar do ano 2000, traz uma discussão atual e demonstra, de uma forma clara e objetiva, a importância de conservar o bioma de Mata Atlântica, considerado-o como o primeiro ecossistema brasileiro explorado pelas ações humanas.

Quem matou a Mata Atlântica?

Eduardo Geraque, Gazeta Mercantil - São Paulo (SP) abril 2000

O arvoredo é tanto e de tanta qualidade que não se pode calcular'. O trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, a certidão de nascimento do Brasil, mostra os primeiros indícios de que a Mata Atlântica, além da população indígena, seria a grande vítima da chegada dos europeus à Pindorama. Desde 1500 até 1872, quando a Coroa exerceu um monopólio estatal sobre as reservas de pau-brasil, 70 milhões de árvores foram retiradas. Os índios, que levavam cerca de três horas para derrubar um pau-brasil antes dos europeus com seus machados de pedra, passaram a ver a mesma árvore cair em 15 minutos quando utilizavam os machados de ferro.

Nos últimos 500 anos, o auge dos ciclos econômicos de monoculturas como a cana-de-açúcar e o café, além do desenvolvimento de pólos industriais, foram os grandes responsáveis pela devastação da Mata Atlântica. Apenas 7,3% da área original deste ecossistema, segundo o último atlas publicado em conjunto pela SOS Mata Atlântica, Inpe e Instituto Socioambiental, está preservada no fim do século XX. A redução, em termos de área, é de 1,119 milhão de quilômetros quadrados para 78.330 quilômetros quadrados. A região do Sul da Bahia e do Sul de São Paulo (Cananéia e Iguape) são as mais preservadas.

Apesar das campanhas pela preservação das florestas e o aumento da preocupação com a biodiversidade nos anos 90, estudos recentes da Fundação SOS Mata Atlântica mostram que o processo de devastação continua acelerado. 'De 1990 para 1995, o Rio de Janeiro devastou mais entre os estados (nove) que registram a presença de Mata Atlântica', explica Márcia Hirota, diretora de projetos técnicos da SOS Mata Atlântica. O desmatamento nesses cinco anos representou 13,13% da Área de Domínio da Mata Atlântica que o Rio tinha no início dos anos 90. A área preservada era de 1 milhão de hectares. Em termos históricos, o Estado do Rio de Janeiro, em 1500, era recoberto pela Mata Atlântica em 97% do seu território. Pelo novo estudo, em 1995, apenas 21,07% da área original continua preservada.

O Rio de Janeiro é a unidade federativa que ainda mantém a maior zona de Mata Atlântica preservada no Brasil. No último intervalo de tempo abordado pelo estudo, São Paulo, com um desmatamento de 3,62% foi o que mais segurou a devastação. Apenas 7,64% da área original, considerado o ano de 1500, permanecem intactas no estado de onde partiu as várias expedições de bandeirantes rumo ao Interior do País. 'Nós sobrevoamos as áreas mais desmatadas no Estado do Rio de Janeiro neste último intervalo analisado', explica Márcia, enquanto abre o mapa do estado fluminense.

'O pior é que essas áreas foram destruídas por nada. São quase sempre pequenas propriedades com baixo poder de produção', explica a pesquisadora que prepara um novo estudo, com dados mais recentes, que deverá ser lançado, estado a estado, até o fim do ano. Segundo Márcia, o governo não é, em hipótese alguma, o único responsável pela devastação. A sociedade civil e também as Organizações Não Governamentais precisam cumprir com suas responsabilidades. 'Nós precisamos trabalhar mais na conscientização do grande público'. Ao governo cabe o papel da fiscalização. Isto é básico', afirma. Em outros estados, como é o caso de Minas Gerais, a destruição mais intensiva da floresta data de um período anterior. Por causa das plantações principalmente do café, metade da Mata Atlântica presente no estado foi cortada no período de 1920 a 1940. A cultura do cacau, na Bahia, também tem, até hoje, sua parcela de culpa pela devastação. O grande episódio mais recente deste século, que atingiu de forma mais global a mata foi o milagre econômico da década de 60. O crescimento do parque industrial é inversamente proporcional ao crescimento da floresta.

A morte da Mata Atlântica não é apenas uma preocupação dos ambientalistas, que conhecem a importância da preservação da biodiversidade dos diferentes ecossistemas. Por causa exatamente da história da ocupação do Brasil, a maior parte da população ficou no litoral e assim sobre a Mata Atlântica, vários tipos de alimentos e até tradições culturais estão também ameaçados junto com os domínios da floresta que sobrou. A questão é também econômica. A erva mate, principalmente cultivada nos estados do Sul do País, é originária da Mata Atlântica. O fim desta cultura, caso não sejam obedecidos os princípios do desenvolvimento sustentável, pode gerar a quebra de um negócio que emprega, em épocas diferentes do ano, 700 mil pessoas e envolve 180 mil pequenas propriedades distribuídas em 500 municípios do Sul do País. Além do chimarrão, as rodas de capoeira também podem acabar caso a biriba seja extinta. A madeira da biriba, além de ser utilizada em construções no Nordeste, também é a única que serve para se fazer o arco do Berimbau. No terreno alimentício, a lista é extensa. Os produtos mais conhecidos são: cajú, maracujá, palmito, pitanga e jabuticaba. A banana não entra nesta lista. Apesar de todos os problemas diretos e indiretos que o processo contínuo de devastação da Mata Atlântica poderá causar, um deles, em especial, é o mais grave: a destruição do ecossistema de Mata Atlântica, aliado à derrubada das matas ciliares, pode comprometer de forma irreversível os rios que nascem nessa região. Sem rios, a água, que já é um bem cada vez mais finito por causa das várias fontes de poluição, poderá se tornar ainda mais escassa e, consequentemente, mais cara.

A Mata Atlântica, segundo estudo lançado em fevereiro pela Conservation Internacional, uma Organização Não Governamental com sede em Washington, está na lista das 25 áreas do planeta mais críticas para a conservação da vida da Terra. Esses ecossistemas são denominados Hotspots de Biodiversidade, segundo conceito desenvolvido pelo ecólogo britânico Norman Myers nos anos 80. Todas essas regiões do planeta se somadas representam apenas 1,4% da superfície terrestre, porém concentram mais de 60% das espécies de plantas e animais identificadas até hoje pelos pesquisadores, em todo o mundo. Para entrar na lista dos Hotspots, a área em questão deve responder por duas características. Ter pelo menos 1,5 mil espécies de plantas endêmicas, além de estar reduzida a 25%, no máximo, de sua área original.

Entre os pontos críticos do globo terrestre listados pela Conservation, a Mata Atlântica é um dos três que teve a sua área original reduzida a menos de 10%. Além dela - restam apenas 7% desse ecossistema no Brasil - sofreram um sério processo de degradação a Floresta de Madagascar (9%) e a das Filipinas (3%). Apesar de também estar presente no Paraguai e na Argentina, a grande área de floresta de Mata Atlântica se encontra no Brasil. Nos países vizinhos, a situação também está mal para a floresta. Em Missões, na Argentina, restam apenas 6% de sua área original, o que representa 3,6 mil quilômetros quadrados. No Paraguai, a taxa anual de desmatamento, segundo dados de 1993, é de 3,4%. Lá, próximo à fronteira com o Brasil, existe uma área de 10 mil quilômetros quadrados de remanescentes. Em termos de plantas endêmicas por região, a Mata Atlântica aparece em quinto lugar, atrás dos Andes Tropicais, Mediterrâneo, Madagascar e Mesoamérica (do México ao Panamá). Não é apenas a floresta de Mata Atlântica, entre os ecossistemas brasileiros, que está presente na lista dos Hotspots. O cerrado, que também tem um histórico muito grande de devastação, aparece como uma das 25 áreas mais críticas a serem preservadas em todo o mundo.

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura) também está observando a Mata Atlântica brasileira. Durante a última reunião anual da entidade, duas áreas de remanescentes de floresta atlântica, a Costa do Descobrimento, na Bahia, e a região conhecida como Vale do Ribeira/Lagamar, entre São Paulo e Paraná, passaram a integrar a lista do Patrimônio Mundial da Natureza. Além de aumentar a responsabilidade dos governantes e entidades ambientais porque a cobrança pela preservação passa também a ser maior, o título da Unesco vai facilitar a obtenção de verbas internacionais para elaboração de projetos e continuar a conservação destas regiões. Apesar do reconhecimento da Unesco, os remanescentes de Mata Atlântica da Bahia estão passando por várias ameaças, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, exatamente quando o estado é palco de diversas festas sobre os 500 anos do Descobrimento. A extração da madeira feita com aval do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovados) é um dos problemas mais sérios, conforme a entidade. Apesar dos planos de manejo apresentados pelos extrativistas e dos carimbos necessários a realidade difere do papel.

Outro ponto que ameaça a floresta é a nova cultura do café. Como o cacau está com o mercado em baixa, os agricultores estão trocando a plantação do cacau, que é feita à sombra da Mata, pelo café. Parte dos novos cafeicultores vieram do Espírito Santo porque, em seu estado, a água já está escassa devido ao desmatamento de áreas da Mata Atlântica. Em 1500, o Estado do Espírito Santo tinha 86,88% de cobertura florestal natural em relação à área do estado. Pelo último estudo, que considerou dados de 1995, esta cobertura está reduzida a apenas 8,90%.

Com base nos conhecimentos das comunidades tradicionais e nos conceitos modernos da ecologia, a relação entre homem e floresta apregoada pela maioria dos ambientalistas não é mais de ausência do homem no ecossistema, mas sim a de uma interação com base nos conceitos do manejo sustentável. Uma das premissas deste ideal é a de que o crescimento econômico deve ser buscado, mas sem que isso ultrapasse os limites sociais e do meio ambiente. É preciso deixar de lado a visão sempre presente nos últimos séculos de que a natureza tem de ser dominada a qualquer custo. A expressão a ser empregada em relação à exploração econômica da Mata Atlântica deve ser a de manejo sustentável e não mais a do simples cultivo.




Evolução do desmatamento da Mata Atlântica no estado de São Paulo

Ano de 1500                       Ano de 1907 
Ano de 1920
Ano de 1973                          Ano de 2000


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