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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Uma viagem que começou há seis milhões de anos






Depois de quatro horas de caminhada, a equipe do Globo Repórter chega à principal nascente do Rio Amazonas, a Lagoa McIntyre. Ela tem este nome em homenagem ao expedicionário americano Loren McIntyre.

Das gotas de degelo, no alto da Cordilheira dos Andes, passando por riachos de águas cristalinas, até fontes de antigas civilizações incas, e metrópoles modernas no meio da selva.

Os repórteres Francisco José e José Raimundo vão refazer uma viagem que começou há seis milhões de anos, e que continua todos os dias no Rio Amazonas. A viagem das águas vai desde as nascentes até a foz do maior rio do mundo.

O repórter Francisco José relata que a expedição começa do outro lado do continente sul-americano. De Arequipa, no Peru, a equipe do Globo Repórter sobe a Cordilheira dos Andes, pelo Vale do Rio Colca, em busca das nascentes do Amazonas no alto das montanhas geladas.

O cânion do Rio Colca, nos Andes peruanos, é o mais profundo do planeta. Seus paredões chegam a 3.600 metros de altura. O Grand Canyon, nos Estados Unidos, é mais extenso, mas a fenda mais profunda da terra é a no Vale do Colca.

Francisco José conta que, pela manhã, é o lugar ideal para avistar o condor, ave símbolo de vários países latino-americanos. O gigante dos céus impõe respeito. A maior ave voadora do mundo pode ter mais de três metros de uma ponta a outra das asas.

A equipe está há quatro dias na Cordilheira dos Andes, no Peru, e dá mais uma parada para aclimatação à altitude. A 4.500 metros, a temperatura é de -4ºC. Um médico peruano acompanha o repórter até a montanha e aconselha caminhadas para que o corpo se acostume, aos poucos, à altitude.

Ele explica que, no alto da Cordilheira, não há tanto oxigênio e o coração precisa trabalhar mais, pois a pressão aumenta. No dia seguinte, a equipe sai antes do amanhecer para, finalmente, escalar a montanha onde estão as nascentes do Amazonas. Vão à encosta do Nevado Mismi, uma montanha que se eleva a 5.600 metros acima do nível do mar.

É verão, época de pouca chuva, mas o caminho é cheio de belezas naturais e dos animais da Cordilheira: alpacas, vicunhas e lhamas. À distância, está o Nevado Mismi, onde nasce o Rio Amazonas. E, ali, sua primeira ponte. No trecho, o repórter pode atravessar o maior rio do mundo, com dois passos, da margem direita para a margem esquerda.

A quase 7 mil quilômetros de distância, na Foz do Amazonas, atravessar o rio não é tão fácil. São 279 quilômetros. Nem com binóculos dá para ver a margem do rio.

A ciência brasileira considera, hoje, a Foz do Amazonas toda a área que vai do arquipélago de Bailique, no Amapá, até a Foz do Rio Pará. A equipe navega entre o Amapá e a Ilha de Marajó.

A bordo de um barco de pesca, chega até o fim verdadeiro do Rio Amazonas no Oceano Atlântico, onde a água doce, finalmente, dá lugar à água salgada.

A equipe de reportagem viaja mar adentro. No segundo dia, pela manhã, os pescadores começam o trabalho. Os peixes encontrados correspondem a 80% da espécie piramutabas. Só a arrraia não é de água doce. Os outros peixes tudo é de água doce”, diz um pescador.

O repórter está a 250 quilômetros do continente, da costa do Pará, de onde saíram. E, do lugar onde está, ele relata que dá para se ter uma ideia da força do Amazonas. Toda a água barrenta vem de lá, é o rio que manda. É a prova de que o Amazonas vai empurrando o mar bem mais para frente. O repórter José Raimundo experimenta um pouco para ver que gosto tem. Não é nem salobra, nem sinal de sal. É água doce no meio do Atlântico.

A primeira vez que estiveram em alto mar, os jovens engenheiros de pesca se surpreenderam. “Imaginava que fosse navegar pela primeira vez no oceano, no mar azul. E quando eu cheguei aqui, mar aberto, porém a água barrenta e doce do Rio Amazonas. E isso me marcou muito. Me marca até hoje”, diz o engenheiro de pesca Luis da Costa Soares.

Os engenheiros medem o tamanho das piramutabas. Para eles, o peixe é um símbolo da força viva do Rio Amazonas. A piramutaba se alimenta e cresce na Foz, mas a desova dela é na região de Tefé, no alto Amazonas.

Águas agitadas, barco balançando muito. Uma viagem sofrida para quem não está acostumado. Mas dá para suportar, no nível do mar. E nos Andes peruanos? A que altitude estará o repórter Francisco José?

Francisco José relata que está a quase 5 mil metros de altitude e, no caminho, encontra antigos povoados abandonados.Poucos ainda têm coragem de viver por lá.

A equipe do Globo Repórter chega à fonte da Carhuasanta. A água que está jorrando da pedra vai para o Rio Amazonas, e é uma água pura, que está sendo filtrada pelo paredão. Ela vem de uma nascente principal e o repórter quer chegar até lá.

A equipe segue, de carro, pela paisagem desértica. Mesmo no verão, a pequena trilha some embaixo da neve. Os carros deixam o repórter em uma altitude de 1.200 metros de altitude. Ali, não pode andar rápido, pois você termina faltando ar. Estão levando oxigênio, mas espera-se que ninguém precise.

O caminho é todo de pedras, o que torna tudo ainda mais difícil. A equipe escala uma pedreira que parece não ter fim. Os carros estão distantes e foi feita uma boa caminhada em menos de meia hora. A escalada é o mais difícil, o mais cansativo. Venceu-se o primeiro obstáculo, que é cansativo, mas a equipe pretende chegar lá.

Às vezes, parece impossível se localizar na imensidão. Mas, com a ajuda dos guias experientes, a equipe atinge o objetivo.

Depois de quatro horas de caminhada, subindo e descendo montanhas, finalmente, a equipe chega à principal nascente do Rio Amazonas: a Lagoa McIntyre. Ela tem este nome em homenagem a um dos seus descobridores, o expedicionário americano Loren McIntyre. O curso de um rio se mede pela distância da sua Foz até a sua nascente. E essa é a nascente mais distante e mais alta do Rio Amazonas.

O local é desértico, sem vida e sem vegetais. Em 2007, o documentarista Pedro Werneck e seus pais, Paula Saldanha e Roberto Werneck, organizaram a primeira expedição científica brasileira até a Lagoa McIntyre. “Cientistas de 16 países, que fizeram pesquisa por toda essa área, confirmaram que essa é a nascente mais alta e mais distante, perene o ano todo”, declara o documentarista.

O trabalho dos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deu origem a uma grande descoberta. O Inpe tem a comprovação científica de que o Rio Amazonas é mais extenso do que o Nilo. Cientistas do Inpe mediram os dois rios, pelos métodos mais avançados, e concluíram que o Amazonas tem 140 quilômetros a mais do que o Nilo.

Os cálculos foram feitos com um programa desenvolvido pela agência espacial americana, a Nasa, a partir de imagens de satélite. “Nós utilizamos a vertente mais distante da boca do Amazonas, esta vertente que está lá no alto Apurimac, que vocês apresentaram no programa. Desta vertente até o Atlântico, o Amazonas chega a 6.992 quilômetros”, relata o geólogo Paulo Roberto Martini, do Inpe.

Os cálculos foram feitos com um programa desenvolvido pela agência espacial americana, a Nasa, a partir de imagens de satélite. “Nós utilizamos a vertente mais distante da boca do Amazonas, esta vertente que está lá no alto Apurimac, que vocês apresentaram no programa. Desta vertente até o Atlântico, o Amazonas chega a 6.992 quilômetros”, relata o geólogo .

Até hoje, a maioria dos mapas escolares ainda mostra o antigo traçado do Rio Amazonas, tendo o Rio Maranon como o principal formador do Amazonas em território peruano. Segundo o Inpe, o novo percurso sai da Lagoa McIntyre, seguindo pelo Rio Apurimac e outros afluentes, até chegar ao Amazonas, em território brasileiro.

O maior rio do planeta nasce com tão pouca água, em uma pequena lagoa. Mas, e na Foz? Dá para avaliar a imensidão do Amazonas? Cerca de 17% de toda a água doce que vai para os oceanos no mundo são despejados na Foz do Amazonas. E os pesquisadores do Inpe já conseguiram determinar também a idade do rio.

“O primeiro material que veio dos Andes, carregado pelo rio, foi datado em 6 milhões de anos. Esta é a idade que nós atribuímos à calha do Rio Amazonas”, conta Paulo Roberto Martini.

Nestes 6 milhões de anos, o rio já correu para o Oceano Pacífico, para o Caribe e, agora, deságua no Oceano Atlântico. Mas a água não se cansa de mudar o seu próprio caminho.

A equipe Globo Repórter sobrevoa a ilha de Bailique, a mais de 100 quilômetros de Macapá, e mostra o que a força das águas é capaz de fazer. As pequenas ilhas, quase perdidas entre o Amazonas e o Oceano Atlântico, estão em constante transformação. A equipe vai até Livramento, um dos povoados isolados.

O acúmulo de sedimentos mudou muito a paisagem do vilarejo de Livramento. A água do Amazonas não se espalhava tanto porque o rio corria dentro da calha e a profundidade passava de 15 metros. A ilha, mais adiante, não existia. Surgiu nos últimos 20 anos.

Na maré baixa, duas vezes por dia, a pequena localidade fica isolada. Não tem estradas, nem pontes. O socorro mais próximo fica a duas horas de barco do local.

Seu Erundino dos Santos, 75 anos, acompanha o sumiço do rio na frente de casa. “A minha imaginação seria que vai ficar um campo. Um campo. Vai acabar este transporte de barco. Vai ter que andar de cavalo, de boi. Vai ser difícil”, relata.

Para a geóloga Odete Silveira, da Universidade Federal do Pará (UFPA), que estuda o Amazonas desde a década de 1980, a movimentação da Foz é a busca natural por equilíbrio.

“O Rio Amazonas é vida pura. Ele vai procurar sempre a cota mais baixa para se movimentar. E se para isso ele precisar esculpir de um lado e depositar no outro, ele vai fazer isso. É o caminho natural do rio”, explica Odete Silveira.

Na Ilha do Parazinho, os dois fenômenos andam juntos. A ilha muda de lugar o tempo todo. Há dois anos, a mata chegava a certo ponto. Agora ela está a mais de 100 metros adiante. Mas se de um lado, a ilha encolhe, do outro ela cresce em uma velocidade muito maior. “Ela tinha uma área muito maior, 111 hectares e, hoje, tem 707 hectares”, relata um morador. É o Amazonas virando floresta. A floresta virando mar.

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