O Brasil possui a maior diversidade de bambu das Américas, com cerca de 200 espécies. O cultivo e a aplicação dessa planta predominante na Amazônia Brasileira viraram política pública. Um projeto de lei sancionado no início de setembro cria a Lei do Bambu, mecanismo de incentivo ao cultivo e manejo sustentado deste recurso natural e que estabelece um novo conceito para a gramínea, que passa a ser tratada como produto agrícola e contará com linhas de financiamento diferenciadas.
Segundo a nova Lei, receberão incentivos do governo agricultores familiares que investirem na atividade de cultivo e manejo sustentável de espécies nativas de bambu, para produção de colmos, extração de brotos e obtenção de serviços ambientais. A Lei também fomentará ações de pesquisa e desenvolvimento tecnológico com a cultura, iniciativas voltadas para a assistência técnica e certificação, parcerias e comércio.
O aumento do desmatamento e a crescente demanda por madeira levam à busca por materiais alternativos, em virtude da escassez e altos preços desses recursos. De acordo com o pesquisador da Embrapa Acre, Elias Miranda, o bambu destaca-se pela versatilidade da sua fibra, podendo ser usado como matéria prima principal e complementar à madeira.
A cultura do Bambu é uma realidade em várias regiões do mundo, particularmente na China e outros orientais e em países andinos como Colômbia e Equador. No Brasil, já existem iniciativas com utilização dessa matéria prima, mas a cadeia produtiva ainda é incipiente.
Usos múltiplos
O bambu pode ser usado na construção civil, fabricação de móveis, utensílios domésticos e de decoração e em benfeitorias rurais. “Além disso, a planta apresenta elevada eficiência no resgate de CO2, podendo contribuir para a redução do efeito estufa e oferta de serviços ambientais como recuperação de áreas degradadas e controle da erosão e do assoreamento de cursos d'água.
Recentemente, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma nova alternativa de aplicação do bambu: o uso como matéria prima para a produção de placas de fibrocimento. Segundo a pesquisa, as placas de fibrocimento reforçadas com polpa de bambu são altamente resistentes e possuem padrão de absorção de água melhor que o exigido pela legislação, podendo ser uma alternativa na fabricação de telhas, caixas d´água e outros produtos, em substituição ao amianto, material que vem sendo banido do mercado mundial por conter substâncias cancerígenas.
“As múltiplas possibilidades de uso dessa matéria prima podem contribuir para a geração de emprego e renda na cidade e no campo e para redução da pressão sobre a floresta. A implementação de uma Política Nacional voltada para o bambu confirma uma tendência de valorização da temática, vai fortalecer as pesquisas desenvolvidas e incentivar novos projetos”, afirma Miranda.
Com a execução de pesquisas na área, a Embrapa Acre, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, se antecipou à valorização do tema. Desde 2009 a Empresa, em parceria com outras instituições, investe em projetos para desenvolvimento e consolidação da cultura.
As primeiras pesquisas da Unidade resultaram no mapeamento das espécies, ocorrência das populações e dinâmica de mortalidade de plantas no Acre, além da identificação de fatores que contribuem para o manejo e conservação de bambuais. Este ano estão em fase de elaboração mais dois projetos: um focado no zoneamento, domesticação e usos tecnológicos do bambu nativo na Amazônia Sul Ocidental; outro voltado para o manejo e utilização do gênero Guadua (conhecido como taboca gigante) como alternativa de eco-desenvolvimento na Reserva Extrativista Chico Mendes.
Os projetos também vão dar continuidade ao desenvolvimento de protocolos para produção de mudas de bambu pelo método de micropropagação in vitro. Conforme explica a pesquisadora Andrea Raposo, a espécie possui bactérias próprias que em ambientes naturais não prejudicam o seu desenvolvimento, entretanto, no cultivo em laboratório passam a competir por nutrientes. Com as pesquisas iniciais conseguimos identificar essas bactérias. “O próximo passo é testar o uso de antibióticos para inibir o crescimento bacteriano e proporcionar as condições necessárias para o uso da técnica de clonagem na cultura do bambu”, diz.
Reservas nativas
Existem cerca de 18 milhões de hectares de bambu na Amazônia. Essa imensa mancha verde está distribuída em áreas que incluem as regiões da tríplice fronteira (Brasil, Peru, Bolívia). O estado do Acre abriga uma das maiores reservas nativas do mundo, com mais de 600 mil hectares ocupados pela planta. A maior parte desse recurso natural está localizada na Reserva Extrativista Chico Mendes, no município de Xapuri, onde predomina o gênero Guadua, considerado de grande potencial econômico.
Para Miranda, o manejo e a utilização dessa espécie representam uma excelente alternativa para diversificação das atividades produtivas e ampliação das oportunidades de geração de renda na comunidade, por ser um recurso abundante na região e devido à sua exploração reconhecidamente sustentável.
Em breve o Acre contará também com mecanismos locais de fomento à cultura do bambu. Um grupo de trabalho formado por pesquisadores e técnicos da Embrapa, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (Sebrae), Fundação de Tecnologias do Acre (Funtac) e Universidade Federal do Acre (Ufac) vem atuando na definição de diretrizes para a elaboração de uma política voltada ao apoio e incentivo a programas de pesquisa e desenvolvimento do bambu no estado.
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