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domingo, 25 de março de 2012

Ilustrações Científicas da Vida Selvagem Brasileira


A Ilustração Científica é uma arte com quase cinco séculos. Constitui a componente visual da comunicação científica e traduz-se, usualmente, em reproduções em papel. O universo da Ilustração Científica abarca áreas tão diversas como a medicina, biologia, arqueologia, etnografia, astronomia, entre outros, mas, especialmente, debruça-se sobre os seres vivos (ilustração biológica), explicando visualmente os aspectos particulares da sua morfologia e estrutura. 


  • Palestra e mostra sobre ilustrações científicas:
"Cinco séculos da iconografia da fauna brasileira" é título da palestra que o ilustrador científico Marcos Antônio Santos-Silva, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília, proferiu no Anfiteatro do Departamento de Biologia (DBIO) da UA, dia 23 de março. Ocasião em que foi inaugurada a exposição "Ilustrações da Vida Selvagem Brasileira", no espaço de exposições temporárias Expo DBIO, com 40 obras do ilustrador brasileiro.


Marcos Antônio Santos-Silva, fala sobre a história da ciência brasileira e da descoberta da sua  diversificada flora e fauna, através do engenho humano que tornou possível retratar e figurar as suas espécies autóctones - num tempo onde a fotografia ainda não existia e o cientista, era simultaneamente,  explorador e dedicado amante da natureza e do conhecimento.


A mostra sobre fauna brasileira, ocorre de 23 de março a 30 de abril, com entrada gratuita, entre as 9h00 e as 17h30 dos dias úteis. Muitos destes animais amazônicos são extremamente raros e até em perigo de extinção, comenta Marcos Santos-Silva. A Biodiversidade brasileira é enorme, e isso faz com sua preservação também seja uma obra gigantesca. Escolher quais espécies entrariam nesta mostra não foi tarefa das mais fáceis. Algumas espécies estão entre as mais conhecidas do imaginário brasileiro, seja por meio de lendas indígenas ou estórias da tradição oral dos caboclos. Entre elas temos, por exemplo, o Tamanduá bandeira, temido pelo seu ‘abraço’, a Capivara, o maior roedor das Américas, e mesmo alguns dos morcegos que provocam medo por superstições ancestrais», explica ainda o ilustrador.



 (Marco Antônio dos Santos Silva/Reprodução)
'Caliandra'
Calliandra dysantha



  • O que é Ilustração Científica?

A Ilustração Científica pode ser definida como uma área das Artes Plásticas cuja finalidade é auxiliar o pesquisador a comunicar suas idéias e descobertas, em form a de desenhos detalhados. Esses desenhos podem ser de animais ou vegetais, mas também podem ser modelos experimentais, modelos de estruturas biológicas (por exemplo modelo de transdução de sinal, de membrana biológica, da superfície de um vírus qualquer e tantos outros). A variedade de técnicas utilizadas é praticamente ilimitada, indo desde o mais simples desenho feito a lápis até sofisticados modelos animados com computação gráfica. 



No Núcleo de Ilustração Científica do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília empregamos as técnicas mais tradicionais de grafite, nanquim e aquarela. Estes tem sido os meios mais utilizados desde há muito para a comunicação científica das imagens. 


Muitas pessoas questionam a validade da ilustração feita por meio "manual" ainda hoje onde computadores e tecnologia digital assombram com seus avanços. Entretanto, o olho humano ainda não encontrou rival para a percepção de detalhes que muitas vezes não são percebidos pelos obturadores de máquinas fotográficas. Ainda assim por melhor que uma fotografia possa ser, problemas inerentes como profundidade de campo, exposição e processamento de detalhes ainda podem ser melhor resolvidos com um bom desenho.


Tradicionalmente, a taxonomia, tanto animal quanto vegetal têm utilizado a Ilustração Científica com enormes vantagens sobre a fotografia. E, muitas vezes, mesmo uma micrografia eletrônica precisa de um desenho esquemático que seja, para mostrar aos observadores(alunos ou pesquisadores) o que deve ser visto, ou como esta deve ser interpretada.

  • Universidade de Brasília mantém o único núcleo do país especializado em ilustração científica. Mesmo com o avanço tecnológico, a técnica continua essencial para o estudo da biologia


Há quem acredite que ciência e arte não andam juntas. Essas pessoas provavelmente não conhecem o trabalho realizado pelo Núcleo de Ilustração Científica da Universidade de Brasília (UnB), o único do país a se dedicar a um dos ramos de pesquisa mais antigos que existem, apesar de pouco conhecido: a arte de retratar, por meio de desenhos e pinturas, espécies de plantas e animais.




Ilustração Científica do professor 
português Fernando Correia.

Em uma era dominada pela fotografia digital, pode parecer estranho que a atividade ainda resista. “Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, a fotografia e outros meios digitais ainda não conseguem descrever as espécies com a mesma riqueza de detalhes que existe em um desenho ou pintura”, explica o professor do Instituto de Ciências Biológicas da UnB Marcos Antônio Santos-Silva, coordenador do núcleo, criado há 11 anos.

 (Patrícia Souza Wanderley/Reprodução)

Ele lembra que a ilustração científica teve origem no trabalho de pesquisadores como Charles Darwin e Leonardo da Vinci, que tinham no desenho a única forma de retratar as espécies que estudavam. “Muitas vezes, em uma foto, as partes mais importantes não podem ser vistas, e os detalhes menos importantes ficam muito aparentes. A grande vantagem da ilustração é que ela pode retratar as características comuns a toda uma espécie e esconder a individualidade de um animal”, afirma o professor, que recebe pedidos de trabalhos de todo o país. “Nós produzimos desde desenhos para orientar estudantes de medicina em cirurgias até a representação de espécies minúsculas, como plânctons que vivem na costa brasileira”, conta.


Durante o processo de ilustração, é muito importante lembrar que não se trata de uma expressão individual. “Nós temos de ter em mente que, se mudamos a direção da antena de algum inseto ou não ficamos atentos à quantidade exata de escamas de um peixe, podemos estar representando uma espécie completamente diferente”, conta o professor. “Nessas horas, paciência é essencial, não dá para ser ilustrador científico sem isso”, completa.


Como as espécies retratadas são de todos os tipos, a comunicação entre desenhistas e especialistas é muito importante. “Nós fazemos os primeiros esboços e mandamos para o pesquisador. Ele aponta o que precisa ser modificado e nos devolve. Esse caminho de ida e volta tem de ser feito várias vezes para garantir que a ilustração seja a mais fiel possível”, explica o ilustrador.


As técnicas utilizadas dependem da finalidade do trabalho, mas a grande maioria dos desenhos é feita em nanquim. “Essa técnica permite um trabalho rápido e com muitos detalhes, mais utilizada para fins técnicos, como teses de doutorado, artigos científicos e livros didáticos”, explica o professor. Um trabalho desse tipo demora, em média, de três a cinco dias para ser finalizado.

Ilustração Científica de Fernando Correia.

Quando a finalidade é mais artística, a técnica preferida é a aquarela. “Essas pinturas são utilizadas principalmente em catálogos de biodiversidade, quando, além de ser importante a representação fiel da espécie, a questão estética também é importante”, explica Santos-Silva. Nesses casos, as obras podem levar até dois meses para serem concluídas.



Terapia

Ilustração Científica de Fernando Correia.


O interesse do pesquisador pela ilustração começou no início dos anos 1990, quando ele cursava doutorado em biologia molecular na Alemanha. “Como eu estava muito estressado por causa dos estudos, resolvi me matricular em um curso de ilustração científica, meio que por terapia”, lembra. Ao retornar ao Brasil, o professor decidiu oferecer uma disciplina no curso de graduação em biologia. “A procura foi tão grande que tivemos de fazer um processo seletivo para escolher os alunos. Hoje oferecemos cinco disciplinas para a graduação, abertas a todos os cursos da universidade, e uma para os cursos de pós-graduação”, completa.


Se o professor Santos-Silva fez o caminho da ciência em direção à arte, o estudante Luiz Veras, 22 anos, seguiu a direção oposta. O jovem se interessou pela ilustração científica durante o curso de artes plásticas e teve de aprender anatomia e biologia para se dedicar ao trabalho. “Ainda na época do vestibular, eu fiquei na dúvida entre biologia e artes plásticas. Agora, tenho a possibilidade de unir as duas áreas”, conta o estudante.


Veras trabalha em um projeto que pretende criar um catálogo das principais espécies de plâncton que vivem na costa brasileira. Na mesa, lápis e papel dividem espaço com um microscópio e material de laboratório. “Eu boto na placa os plânctons que foram trazidos da costa e fico procurando até encontrar algum em que a característica que preciso retratar esteja mais visível. Assim, em um desenho, eu retrato partes de vários exemplares diferentes de uma mesma espécie”, conta.

ILUSTRADORES CIENTÍFICOS


O estudante aponta como a principal vantagem do trabalho a possibilidade de aprender sobre os mais variados assuntos. “Eu já desenhei plantas, animais e partes do corpo humano. Nessas horas, a gente acaba tendo de aprender um pouco sobre o que estamos retratando e isso é muito interessante. Hoje, posso pesquisar o pequi do cerrado e, amanhã, alguma espécie marinha”, conclui.




Marcos Antônio Santos Silva, docente e fundador/coordenador do Núcleo de Ilustração Científica do Instituto de Ciências Biológicas (Universidade de Brasília, Brasil), é o segundo especialista em Ilustração Científica brasileiro que vem a Portugal a convite expresso do Laboratório de Ilustração Científica (LIC), do DBIO da Universidade de Aveiro.

Profissional de carreira internacional e professor convidado em diversos cursos de Ilustração Científica em outras instituições de ensino superior brasileiras (Univ. de São Paulo; Instituto de Pesquisa da Amazônia/INPA, Manaus, entre outras), é também especialista em ilustração botânica (Royal Botanic Gardens, Kew, UK) , graças à atribuição de uma Bolsa Artística pela emérita Fundação Botânica Margaret Mee. 

É dos poucos ilustradores científicos brasileiros a quem foi atribuido o prestigiante FON Award (Jury & Purchase; XI Focus on Nature). Autor de inúmeras pranchas zoológicas, de invulgar beleza e correção científica, produziu ainda vários ensaios escritos. 

A sua obra mais recente, ainda em publicação, é o "Guia Ilustrado de Mamíferos do Amapá", onde foi responsável por 32 pranchas - algumas das quais integram a presente exposição, em ante estreia à sua apresentação no Brasil.

Click to enlarge image calliandrawp.jpg

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