
Em meio à onda de pessimismo em torno da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), pesquisadores, sociedade civil e empresários debateram em São Paulo, durante o Viva a Mata, que aconteceu entre 18 e 20 de maio, as suas expectativas e sugestões para que o encontro tenha um resultado robusto.
Ricardo Abramovay, Professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e pesquisador da FAPESP, acredita que duas coisas podem ser alcançadas na conferência, se contarem com a devida pressão social:
- A superação do PIB como medida de riqueza;
- A criação de objetivos de sustentabilidade.
Abramovay explica que a sociedade produz riquezas que não correspondem à realidade e dá o exemplo do automóvel que está parado no trânsito. Neste cenário, o consumo de combustível é contabilizado no aumento no PIB, mas nem por isso significa um aumento de bem-estar para a sociedade. Além disso, é preciso mostrar para a sociedade o que realmente é fundamental.
Para o sociólogo Pedro Jacobi, professor da Faculdade de Educação e presidente do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da USP, é preciso ser otimista em relação à Rio+20, mas com responsabilidade.
“É fundamental a pressão social e o grande desafio é trazer a decodificação para a sociedade”, comentou Jacobi, se referindo à forma geralmente catastrófica como os dados ambientais são apresentados em nosso cotidiano.
“Temos que fortalecer a aprendizagem social”, ponderou.
A mudança da lógica do sistema capitalista é citada cada vez mais frequentemente quando se considera a crise ambiental e social que passamos e neste debate não poderia ser diferente.
Tanto Abramovay como Jacobi e também Ricardo Young, empresário e um dos fundadores do Instituto Ethos, citaram a adoção de uma nova base para o desenvolvimento da sociedade.
Young critica a ética antropocêntrica em que o sistema atual é ancorado, na qual toda a vida na terra é considerada como servente ao ser humano, em contrapartida a uma nova ética biocêntrica ou geocêntrica em que deveríamos crescer, como posto pela ‘Carta da Terra’.
Ele também enfatiza que uma das soluções para a ausência de governança no processo multilateral internacional é a maior independência do PNUMA, para que se possa atuar de forma mais efetiva, assim como da Organização Internacional do Comércio.
Urbanidades
Outra questão chave para discussão na Rio +20 é a sustentabilidade das cidades, ‘buracos negros’ que não produzem Serviços Ecossistêmicos, critica Young.
As cidades podem vir a ser também fonte de recursos naturais, se regras básicas como a legislação ambiental e os planos diretores forem respeitados e se novas ferramentas forem utilizadas para conter a ocupação desenfreada e sem infraestrutura.
Nabil Bonduki, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, denuncia que o Rascunho 1 do documento da Rio +20 inclui apenas um parágrafo sobre a problemática urbana. Porém, que as sugestões brasileiras incluem itens como Áreas de Preservação Permanente urbanas, mobilidade sustentável, entre outros.
“Na cidade não apenas vive a maior parte da população, como é onde se reproduz o modo de vida insustentável. Sem repensar o modo de consumo e produção não vemos avanços”, comentou Bonduki.
Autor: Fernanda B. Müller - Fonte: Instituto CarbonoBrasil
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