Populações indígenas na Amazônia realizavam cultivos com sucesso sem o uso do fogo antes da chegada dos Europeus, o que demonstra uma abordagem potencialmente sustentável para o manejo da terra na região que cada vez mais está vulnerável a incêndios causados pelo homem.
A pesquisa, publicada nesta semana no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, contribui para um crescente grupo de evidências, mostrando que as sociedades pré-colombianas praticavam técnicas avançadas de agricultura menos prejudiciais ao ambiente do que as abordagens atuais.
“Este uso da terra ancestral sem fogo pode mostrar o caminho para a implementação moderna da agricultura com canteiro elevado em áreas rurais da Amazônia”, comentou o principal autor do estudo, José Iriarte, da Universidade de Exeter.
“A agricultura intensiva com cultivos elevados pode se tornar uma alternativa para a queima das florestas tropicais ao retomar ecossistemas que de outra forma estariam abandonados e savanas novas criadas pelo desmatamento. Isto pode ajudar a reduzir as emissões de carbono ao mesmo tempo que oferece segurança alimentar para as populações rurais mais vulneráveis e pobres”.
As conclusões são baseadas na análise de pólen, depósitos de carvão e outros remanescentes vegetais nas camadas do solo representando um período de 2 mil anos, terminando há cerca de 800 anos. A pesquisa desenvolvida em savanas naturais da Guiana Francesa, demonstra que populações amazônicas ancestrais utilizaram agricultura com canteiros elevados, na qual os cultivos eram plantados em montes para proteção contra enchentes e melhoria da fertilidade do solo. Os agricultores limitavam a incidência de fogo, segundo o estudo.
As conclusões contrastam com o censo comum de que as populações nativas dependiam do fogo para converter a floresta em savana, como tipicamente se faz na Amazônia atualmente.
“Nossos resultados obrigam a reconsiderar o que há tempos se pensava”, comentou o coautor Mitchell Power, da Universidade de Utah.
De fato, a morte em massa das populações nativas, em seguida à invasão europeia no Novo Mundo, pode ter reduzido a produtividade da terra em longo prazo.
“Estes sistemas podem ser tão produtivos quanto a terra preta feita pelo homem na Amazônia”, mas com o beneficio adicional de ter baixas emissões de carbono”, completou Stephen Rostain do Centro Nacional de Pesquisa Cientifica (CNRS), da França, se referindo a solos ricos descobertos em outras partes da Amazônia.
A terra preta era formada por um processo indígena de biochar — técnica agrícola que adiciona carvão obtido através de pirólise da biomassa aos solos pobres e ácidos — que convertia os solos pobres em intensamente férteis. Pesquisadores agora estão tentando desvendar este processo para melhorar a produtividade dos solos tropicais.
Enquanto isso, cientistas estão alertando que as práticas atuais estão colocando o ecossistema amazônico em risco. Uma combinação de mudanças climáticas, exploração de madeira seletiva e desmatamento estão contribuindo para aumentar a vulnerabilidade amazônica à seca, que transforma áreas de florestas tropicais, geralmente muito úmidas para queimar, em condutores para o fogo que escapa de áreas vizinhas.
Os incêndios na Amazônia não causam apenas poluição local e impactos na saúde, também contribuem muito para as mudanças climáticas. Portanto, o sistema ancestral sem uso de fogo pode resultar em dividendos ambientais importantes.
“Apesar de atualmente as savanas serem geralmente associadas com incêndios frequentes e altas emissões de carbono, nossos resultados demonstram que nem sempre foi assim”, comentou Doyle McKey, da Universidade de Montpellier.
“Com o aquecimento global, é mais importante do que nunca encontrar uma forma sustentável de manejo das savanas. As dicas de como alcançar isto podem estar nos 2 mil anos de história que revelamos”.
Fonte: Mongabay
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Traduzido por Fernanda B. Muller, Instituto CarbonoBrasil
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