Cuidando do meio ambiente através crianças,
Carolina Lefemina conta a história
Apesar de não ter aprendido noções sobre preservação dos recursos naturais desde criança, Carolina Lefemina sempre gostou da natureza. Aos 35 anos, ela criou a
Makaya, uma ONG para realizar trabalhos de reinserção de animais silvestres em seus habitats e desenvolve um projeto com as crianças da
Casa do Zezinho.
Na escola, ela criou uma metodologia de ensino ambiental completamente diferente do usual, seu objetivo é fazer com que as crianças gostem de cuidar do meio ambiente "com o coração".
Leia abaixo a entrevista e entenda como projetos como a criação de uma horta ou a troca de copinhos plásticos por canecas pode fazer com que as crianças e os jovens compreendam a preservação e cultivem amor pela natureza.
O Makaya surgiu de uma vontade minha de fazer reinserção de animais silvestres na vida selvagem. Eu sempre trabalhei com animais, fui adestradora durante 15 anos, e o meu objetivo é trabalhar para devolver esses bichos à natureza. A partir daí comecei a rea
lizar parcerias com pessoas que querem ter aproximação com o meio ambiente. Dessa forma, eu tomo conta dessa temática nos projetos das pessoas com quem trabalho.
A missão do Makaya é educar as pessoas para a preservação e o cuidado com o meio ambiente. Hoje, na parceria que eu realizo com a Casa do Zezinho, eu cuido do meio ambiente através das crianças.
Nessa parceria, nós criamos mecanismos de educar os zezinhos para a preservação. Um deles é o Caminho da Transformação, que começa em uma Ecocabana. Ela foi construída pelos próprios zezinhos e seus pais.
Nós escolhemos pais que já tinham experiência como pedreiros ou que estavam desempregados e os levamos para um curso de capacitação em permacultura, chamado Casa do Homem. Lá eles aprenderam a fazer bioconstrução.
A cabana foi montada com garrafas PET recheadas de sobras de materiais das aulas dos zezinhos, com a massa feita de adobe com jornal, cola e barro, e com estrutura de restos de metais de construção civil. Na Ecocabana, os zezinhos têm aulas de vídeo, com filmes relacionados ao meio ambiente.
O percurso do "Caminho da Transformação" é grande...
Então, após a cabana, tem uma “Calçada da Fama” com pegadas de bichos que estão em fase de extinção, daí eles chegam na parte que eu considero o coração do projeto, que é o “Meu Refúgio”, um pedaço de mata fechada, onde os alunos devem ficar em silêncio e podem sentir o cheiro do mato. É nesse ponto que a gente quer tocar no coração desses meninos, fazer com que eles sintam gratidão pela natureza e por tudo o que ela nos oferece (a água, o fogo, a terra e o ar). Fazer com que eles entendam que são parte disso e que a natureza está aí, responsável pela vida deles.
Depois temos viveiros de coelhos, cabras, codornas e também um viveiro aberto para pássaros. Nós queremos implantar a ideia de que os animais não precisam estar presos para serem cuidados pelas pessoas.
No futuro nós queremos fazer uma ação com o IBAMA para devolver papagaios dos alunos à natureza. Um dado curioso é que três em cada 10 alunos da Casa possuem papagaios. Eles sabem que é errado, mas muitos não sabem que podem devolver os animais e nós queremos realizar uma ação de reinserção desses pássaros.
Os alunos também plantaram um jardim com mais de mil sementes. A primeira tentativa não deu certo, todas as mudas morreram e eles passaram por uma frustração, além de entender a dificuldade que uma planta tem de nascer e o tempo que demora para germinar. Eles produziram outras mudas, na própria estufa da Casa.
Eles adoram essas ações e participam diariamente. Outro projeto nosso foi a implantação de reciclagem na escola, feito com a cooperativa que uma mãe de zezinho participa.
Nós colocamos as lixeiras e explicamos a eles como é que funciona o sistema: todos os dias, em rodízio, um grupo de zezinhos de todas as classes de aula são fiscalizadores do Makaya. Eles recebem aventais e boné de identificação e passam por toda a escola olhando as lixeiras e as plantas - assim que os bichos chegarem também vão cuidar deles. E para acabar com esse hábito de jogar o lixo no chão, que tinha muito, nós criamos uma parceria entre o pessoal da limpeza e os zezinhos que participam do Makaya, porque aí, no local que está sujo ou que o pessoal não está jogando lixo corretamente, os alunos avisam ao pessoal da limpeza.
A Casa do Zezinho consumia cerca de 60 mil copos plásticos por mês e isso incomodava muito a Tia Dag. O copinho plástico, por mais que ele seja levado para a reciclagem, é pouco reaproveitado. Nós tínhamos a ideia de introduzir o uso das canecas, mas não sabíamos como fazer. Foi então que um grupo de alunos viu a nossa bióloga com uma caneca pendurada na calça e também quis. A partir desses jovens, a escola toda (com mil e duzentos alunos) quis usar as caneca. Os próprios alunos tomam conta das plantas e da fiscalização do lixo
Para fazer com que os alunos entendessem a necessidade de cuidar do meio ambiente, nós começamos com a ideia de que eles precisam colocar a mão na massa em tudo, são eles que mexem na terra e cuidam das plantas, que veem se as coisas estão dando certo ou não. No começo, nós tivemos uma dificuldade de como trazer isso para os zezinhos. Uma de nossas primeiras conversas foi justamente isso, qual o papel deles na preservação do meio ambiente, seja contra o aquecimento global ou no cuidado com as espécies. Eles diziam que não tinham nada a ver com o derretimento das geleiras e com a extinção dos micos-leões-dourados, por exemplo.
Então nós fizemos com que eles percebessem que tinham que cuidar dos recursos mais próximos, como o ar que respiram e a água que bebem. A ideia é fazer com que eles poluíssem menos produzissem menos lixo.
Muito dessa filosofia é realizada em parceria com a nossa bióloga, que direto realiza atividades de reciclagem e reutilização com as crianças para que eles passem a entender da preservação com o coração, porque aí fica mais fácil.
O Makaya só tem um ano, mas nós realizamos outras duas ações, uma no Lar Doce Lar (quadro do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo) e uma com o
Projeto A Gente Transforma (AGT), em parceria com o Marcelo Rosenbaum e a Suvinil. Nesse projeto nós fizemos uma revitalização da quadra de esportes do Parque Santo Antônio, em São Paulo, e o Makaya entrou com o objetivo de fazer com aquilo tivesse o menor impacto ambiental possível. Nós reutilizamos o material utilizado na ação e plantamos mais de 100 árvores em torno do campo.
Nessas ações, é possível perceber se a comunidade agrega esses valores de sustentabilidade tem coisas que ficam guardadas em nossa cabeça, coisas que dinheiro nenhum compra. Nessa ação do AGT, por exemplo, nós passamos o dia plantando árvores, fomos na comunidade apenas para plantar e explicar como fazer para preservar as plantas.
Quando terminamos, a gente entregou balas para as crianças que participaram e nos ajudaram com as mudas, e um garoto me chamou atenção. O lugar que foi revitalizado fica em meio a um lixão, sabe? E tem sacos de lixo e resíduos espalhados por todos os lados. Quando aquele menino ganhou a bala e desembrulhou, ele ficou sem saber onde jogar o papel. Ele olhou para todos os lados e moveu mais de vinte passos para chegar a uma lixeira, mas não jogou no chão.
Nós não estávamos lá para falar que não se podia jogar lixo no chão, a gente estava lá para revitalizar a comunidade. E eu acho que aquilo o tocou. Acho que ele pensou que agora, já que estava tudo arrumado, ele não ia ajudar a sujar.
Isso ficou guardado em minha memória.
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