Palmito-juçara
A partir dos 8 anos de idade, uma palmeira-juçara já é capaz de produzir palmito comestível de qualidade. Os mais saborosos, porém, surgem a partir dos 10 anos
O palmito é o de menos. Para a manutenção do ecossistema, a real importância da palmeira-juçara está nos frutos. Acredita-se que cerca de 70 espécies animais da Mata Atlântica se alimentem dos coquinhos da juçara. A maioria são aves, como o macuco, o jacu e o tucano, mas a lista inclui também alguns mamíferos, como a paca, a queixada e a anta. Todos eles se servem dos altos teores de gorduras e carboidratos contidos nos frutos, o que se traduz em energia extra para sobreviver na mata e aumentar as taxas de reprodução. Eles também ajudam a dispersar a palmeira: ao comer a polpa e largar a semente fora – seja regurgitando, seja pelas fezes –, o grão germina mais rápido, onde quer que caia.
Também chamada de içara ou palmito-doce, a palmeira-juçara (Euterpe edulis) é uma parente próxima do açaizeiro amazônico (Euterpe olaracea) que cresce nas encostas úmidas e sombreadas do litoral brasileiro, da Bahia ao Rio Grande do Sul. Isso, claro, onde ainda há resquícios intocados de Mata Atlântica. Nestes, a incidência natural é de até 550 palmeiras adultas por hectare. Multiplique cada uma pelo número de frutos que produz – 5 mil coquinhos, pelo menos – e você terá a medida do quanto a juçara é crucial para a sobrevivência de aves e mamíferos. Isso explica porque, na mata onde somem as juçaras, somem também os animais.
Ao contrário do açaí ou da pupunha, a juçara não gera novos brotos depois de cortada. Um exemplar, quando derrubado, vai-se para sempre
Além de salvar a espécie da extinção, a polpa da juçara pode bem virar o novo açaí. Ou, melhor dizendo, a contraparte meridional do energético amazônico. Embora cresçam em biomas diferentes, as duas espécies de palmeira geram frutos de cor, textura e sabor muito parecidos. Isso permite que a juçara se preste aos mesmos propósitos do açaí – inclua aí a polpa servida com granola e guaraná, como é o hábito na região Sudeste.
Com alguns benefícios adicionais: comparada ao açaí, a juçara tem mais ferro, potássio e quatro vezes mais antocianina, pigmento que ajuda a combater os radicais livres e nos protege contra tumores, infecções e doenças vasculares. É a mesma substância, por exemplo, que dá cor e saúde ao vinho tinto, só que numa concentração dezenas de vezes maior. Quem vive no Sudeste tem ainda a vantagem de poder consumir a polpa de juçara fresca. Ao contrário do açaí, que vem congelado do Pará.
Por tudo isso, e também como alternativa econômica, já existem quatro projetos de beneficiamento da polpa da juçara em curso no estado de São Paulo. Os mais relevantes acontecem no Vale do Ribeira e no Litoral Norte. O primeiro é uma parceria do Instituto Socioambiental com algumas comunidades quilombolas no sul do estado, bem onde está a maior área preservada de Mata Atlântica no país. No norte, o Instituto de Permacultura e Vilas Ecológicas da Mata Atlântica (Ipema) se juntou aos caiçaras de Ubatuba e municípios vizinhos para criar o Projeto Juçara. Ali, a venda de sementes e da polpa da juçara garante a renda de 40 famílias.
Valores nutricionais das polpas de juçara e de açaí:
- Calorias (100 g): 155,7 kcal (juçara) x 152,9 kcal (açaí)
- Proteínas (kg): 67 g (juçara) x 77,6 g (açaí)
- Gorduras (kg): 137,8 g (juçara) x 130,9 g (açaí)
- Açúcares (kg): 12 g (juçara) x 10,2 g (açaí)
- Fósforo (kg): 0,8 g (juçara) x 1,4 g (açaí)
- Ferro (kg): 559,6 mg (juçara) x 328,5 mg (açaí)
- Potássio (kg): 12,1 g (juçara) x 7,4 g (açaí)
- Zinco (kg): 12,2 mg (juçara) x 10,1 mg (açaí)
Fonte: Ceplac/Cepec/Sefis/ Nat Geo Brasil
Humm, fiquei com vontade de açaí com banana e bastante granola :)
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