- Mineração ilegal de ouro é registrada no coração do Parque Amazônico da Guiana.
Na Guiana Francesa, território sul-americano que pertence ao estado francês, está o Parque Amazônico da Guiana, maior área protegida da União Europeia. 3.4 milhões de hectares abrigam enorme riqueza e biodiversidade, representadas em cerca de 480 espécies de peixes, 180 de mamíferos, 300 de répteis e anfíbios, 720 de aves, milhares de insetos e mais de 5.800 de plantas. O peixe Hemigrammus guyanensis, a rã Rhinella lescurei e a borboleta Strephonota bicolorata são algumas das espécies endêmicas registradas na região.
Parque Amazônico da Guiana.
Segundo o site do parque, ele foi criado com a missão de conservar bosques amazônicos primários, além de proteger rios e preservar raros habitats caracterizados por alto endemismo. Está inserido em um complexo de proteção de quase 11 milhões de hectares, onde “a combinação do Parque Amazônico da Guiana e do Parque Tumucumaque (e outras unidades de conservação no Pará) formam a maior área protegida de selva tropical no mundo”, afirma Florent Taberlet, do Programa de Ecossistemas Terrestres da WWF Guianas. “O local é habitat de várias espécies que são importantes bioindicadores da saúde da floresta”, complementa Frédéric Montier, diretor do parque.
No Parque Amazônico da Guiana vivem nove mil habitantes, a maioria pertencente às etnias Wayana, Wayampi e Teko. Entre estes povos existe a crença de que o parque os protege de perder seu habitat e de uma possível colonização por “invasores”. Apesar deste senso de proteção expressam interesse em recuperar suas terras já que, pela lei francesa, o território pertence ao Estado. Segundo Félix Tiouka, líder indígena, “queremos que reconheçam nossos direitos”. Na região também residem os bushinengues, descendentes de escravos negros no Suriname.
O longo processo de delimitação
A criação do Parque Amazônico da Guiana é resultado de um processo de quase 15 anos, um caminho bastante longo e dificultoso. De acordo com Moïse Tsayem Demaze, da Universidade de Le Mans, autor do estudo “O Parque Amazônico da Guiana Francesa: um exemplo do difícil compromisso entre a proteção da natureza e o desenvolvimento”, de 1992 até 2007, quando foi oficialmente criado, o parque teve pelo menos quatro propostas de delimitação, com discussões acerca da exploração legal de ouro.
Localização do parque. Google Earth
Para o investigador Eric Pauzé, autor de “O último território europeu na América do Sul; os ameríndios da Guiana Francesa contra a legislação francesa no caso do Parque Amazônico da Guiana”, a criação do parque e sua delimitação foi influenciada por grandes companhias auríferas que exploravam a região, como a alemã KWG e as canadenses Cambior, Arasco e Guyanor. “Em nenhum momento foi questionada a possibilidade de atacar a indústria aurífera, ou seja, abandonar a exploração legal ou diminuí-la”, afirma Eric. Por causa disso, o parque teve modificada e diminuída a área inicial proposta.
Apesar dos interesses auríferos, a zonificação final foi publicada em 2007, “levando mais em conta a necessidade de proteger o meio ambiente e a população local do que o desenvolvimento e a possível exploração via mineração legal”, afirma o professor Moïse. Como explica Taberlet, o parque ficou delimitado em duas áreas: a zona central e a zona de livre adesão, tendo a primeira de 2.03 milhões de hectares, chamada também de “zona mais virgem”. Esta área está sob regulamento próprio, adaptado às comunidades que a habitam e que tradicionalmente vivem dos recursos naturais. Já na zona de livre adesão ou periférica, com 1.3 milhões de hectares, as administrações territoriais locais implementam programas coordenados com a administração do parque, como o chamado Leader, cujo objetivo é movimentar a economia mediante o uso sustentável dos recursos naturais, a criação de microempresas e o desenvolvimento de uma agricultura diversificada.
Mineração aurífera, ameaça constante
Desde que surgiu a ideia de criar o parque, a mineração na floresta já era um problema. Hoje é a maior ameaça, comenta Florent Taberlet, “pois atividades ilegais de exploração de ouro têm impacto muito negativo sobre o meio ambiente e a saúde da população local”.
Como comenta Florent, da WWF, “essas atividades diminuíram dentro do parque, mas aumentaram nos arredores”. Atualmente, o Parque Amazônico da Guiana articula ações com organizações estatais no combate à exploração ilegal e monitoramento dos impactos gerados pela extração ilegal de ouro, nas áreas adjacentes ao parque.
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