BALTRA, GALÁPAGOS - Quem chega a Galápagos tem a sensação de que recuou no tempo. Formação vulcânica encravada no Oceano Pacífico, a mil quilômetros da costa do Equador, esse arquipélago com flora e fauna peculiares talvez seja, junto com Fernando de Noronha, uma das grandes atrações de turismo ecológico insular do continente sul-americano. Esqueça praias com cerveja gelada e petiscos, resorts com coqueiros, piscinas e massagens relaxantes. Os hotéis locais são confortáveis iates (pequenos navios com, no máximo, 25 cabines). O turismo é ecológico e as praias são desertas e protegidas pelas rígidas leis equatorianas. Só a vida selvagem reina nas ilhas.
Galápagos foi mapeado pela primeira vez no século XVI. Os espanhóis chamavam as ilhas de "encantadas", porque apareciam e desapareciam sob a névoa durante a maior parte do tempo. Entre os séculos XVIII e XIX o arquipélago tornou-se um disputado destino para os navios baleeiros britânicos e americanos. Em 1835, o H.M.S. Beagle, do capitão Robert FitzRoy, trouxe a bordo seu mais ilustre visitante: o jovem Charles Robert Darwin desembarcou na ilha de San Cristóbal, em 15 de setembro daquele ano, e por 35 dias visitou as ilhas Floreana, Isabela e Santiago, colhendo informações sobre plantas e animais para subsidiar sua teoria da evolução das espécies.
A Unesco declarou as Ilhas Galápagos Patrimônio Natural da Humanidade em 1978 e Reserva da Biosfera em 1984. Hoje o arquipélago disputa o título de 7 Novas Maravilhas da Natureza, no concurso criado pelo suíço-canadense Bernard Weber. A visita feita a seis de suas ilhas revela animais incríveis, paisagens fantásticas, organização turística e consciência ecológica impecáveis.
Dança com lobos-marinhos em águas azul-turquesa
Já na chegada a Galápagos, na Ilha de Baltra, onde fica um dos dois principais aeroportos do arquipélago (o outro é na Ilha de San Cristóbal), nota-se a paisagem árida e o clima de deserto que dominam a região. Uma feira de artesanato, ao lado do aeroporto, é a única atração da ilha e é aconselhável fazer logo algumas comprinhas nas tendas, porque pode ser que o seu avião de volta não decole do mesmo aeroporto. Um ônibus leva os turistas até o cais do canal Itabaca, entre as ilhas de Baltra e a de Santa Cruz, onde a infraestrutura é completa e fica o povoado de Puerto Ayora, com hotéis, pousadas e restaurantes. Durante a travessia do canal pode-se observar os lobos-marinhos descansando nas boias de navegação. Eles serão companhia constante durante toda a viagem. Na parte alta da ilha, onde o clima é de montanha com floresta tropical, se avistam grandes crateras formadas pelo desabamento de túneis de lavas há milhares de anos.
A partir daqui o transporte para as demais ilhas é feita a bordo do iate La Pinta. Após sete horas de navegação, a embarcação chega à ilha de Bartolomé, uma das mais bonitas do arquipélago, com paisagens diversas. Por um ângulo parece que se está em Marte, por outro, no Caribe. As grande atrações, além das belas praias, estão no ponto mais alto da ilha, com acesso por por uma escadaria de madeira com 388 degraus, de onde se tem uma vista magnífica, e no pináculo, uma formação rochosa de pedra vulcânica em forma de torre que brota do fundo do mar rumo ao céu. Lá a diversão abrange banho de mar, snorkel costeiro para observar milhares de peixes coloridos de todas as formas, tamanhos e cores, inclusive um tubarão-martelo, avistado por vários turistas.
Puerto Ayora lembra Búzios na década de 1970, porém sem o charme da cidade brasileira. Ali pode-se comer bem em seus vários restaurantes e se hospedar em pequenos hotéis e pousadas. A uma caminhada de dez minutos do centro da cidade está a Estação de Pesquisa Charles Darwin, base internacional, sem fins lucrativos da Fundação Charles Darwin. Uma parada na estação científica está incluída em todos os cruzeiros das ilhas. Os visitantes aprendem sobre história natural, reprodução das espécies e conservação da vida selvagem da região. A fundação trabalha em estreita colaboração com o Parque Nacional de Galápagos, proporcionando educação ambiental não só para as comunidades e escolas dentro das ilhas, mas também para os viajantes que visitam Galápagos.
Lá é possível visitar o Solitário George. Com quase cem anos, George é o último sobrevivente da dinastia de tartarugas terrestres da Ilha de Pinta. Ele foi capturado em dezembro de 1971 e levado à estação científica em março de 1972. Todos os esforços para encontrar outro exemplar de sua espécie têm sido em vão. Hoje em dia, ele divide seu espaço na estação com duas tartarugas fêmeas da população do Vulcão Wolf.
Na Ilha de Rabida, o melhor é a caminhada. O desembarque molhado é numa praia de areia vermelha cuja cor se deve à oxidação do ferro, elemento abundante na ilha. As pangas, botes infláveis de borracha com motor de popa usados para o desembarque do La Pinta, encostam na praia bem em frente à trilha. A caminhada gratificante por labirintos de cactos e uma floresta de pau-rosa deixa os visitantes extasiados. Na trilha, é possível ver, entre outros, pássaros, pombas de Galápagos, piquero de patas azuis e, com sorte, belos flamingos.
Depois de uma noite inteira de navegação, chega-se à Ilha Espanhola. Lá, Gardner Bay deslumbra o viajante com suas águas cor de turquesa e praias de areia fina, que de tão branca fazem doer os olhos. Centenas de lobos-marinhos se espalham em colônias pela praia dormindo, amamentando os filhotes ou apenas observando o movimento. Os machos patrulham a praia na beira d'água nadando de um lado para o outro, protegendo o seu harém. Todo cuidado é pouco: esse machos podem chegar a pesar 250 quilos, são extremamente territorialistas e costumam atacar ao se sentirem ameaçados. Melhor manter uma distância de mais de dois metros dos animais. Já os filhotes são dóceis e brincalhões.
Percorrendo a costa rochosa da Ilha Espanhola chega-se a um poço profundo, com águas calmas e cristalinas. O grande barato é mergulhar com os lobos-marinhos - os navios oferecem atividades de snorkel gratuito; o aluguel da roupa de neoprene é pago à parte, e extremamente necessário, pois a água é bastante gelada em quase todo o ano. Sem temer os humanos, os lobos-marinhos, geralmente jovens, se aproximam e, numa dança frenética, interagem com os mergulhadores. Tão rápido como chegam à superfície, partem para as profundezas do Oceano Pacífico
Na última etapa da viagem o La Pinta atraca no porto do vilarejo de Baquerizo Moreno, na Ilha de São Cristóbal, capital do arquipélago. A cidadezinha simples e simpática tem uma pequena infraestrutura para o turismo com restaurantes, hotéis e algumas empresas especializadas em mergulho. Lojas de suvenires vendem de camisetas a ímãs de geladeira. Algumas imprimem na hora em uma camiseta as estampas de Galápagos que você escolher. Ali também funciona o segundo aeroporto das Ilhas Galápagos. Na decolagem, vendo as ilhas ficarem pequeninas da janela do avião, o arquipélago deixa saudades. Mas é hora de voltar ao mundo urbano e visitar Quito.
O transporte entre as ilhas, neste nosso roteiro, foi feito a bordo do iate La Pinta. A sensação é de estar embarcando na maior aventura de sua vida. Pequeno demais para ser chamado de navio e grande da mais para ser chamado de lancha, o iate com 55,86 metros de comprimento, 12,5 metros de largura é o senhor dos mares de Galápagos. Com luxo discreto e sem os exageros dos transatlânticos modernos, tem, em sua parte interna, 24 camarotes com banheiros, impecavelmente limpos e arrumados, além de sala de TV (só com filmes e documentários em DVD), dois bares, um salão de encontros (com internet wi-fi), onde ocorrem as palestras sobre a viagem, uma sala de refeições, uma recepção com loja de suvenires e uma pequena enfermaria, com médico dia e noite.
No deck externo, além das tradicionais espreguiçadeiras, o iate oferece bar e salão de jogos onde se pode almoçar ou jantar (dependendo do tempo), uma academia de ginástica com vários aparelhos, inclusive esteiras para uma corridinha, e uma enorme jacuzzi, para relaxar ao pôr do sol. A tripulação bem treinada e profissional deixa o passageiro à vontade em todo o navio, inclusive para subir à ponte de comando quando não há manobra de atracação.
Na recepção aos passageiros, há as orientações de sempre, que incluem um treinamento para emergências, com direito a alarme e coletes salva-vidas. Os tripulantes explicam as regras de comportamento em situações de risco e a importância de detalhes, como um quadro de madeira com ganchinhos para botar um medalhão de metal com o número de sua cabine. O medalhão é verde de um lado e marrom do outro e indica se o passageiro está a bordo ou não. É fundamental fazer a troca de cores nos embarques e desembarques. O barco só parte quando todos os medalhões do quadro estiverem verdes.
Fontes:
Globo Repórter (vídeos)
Gustavo Miranda (gustavo@bsb.oglobo.com.br)
Globo Repórter (vídeos)
Gustavo Miranda (gustavo@bsb.oglobo.com.br)
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